20/06 Como Jesus aprendeu a ser Ministro da Palavra
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Se a gente pudesse perguntar a Jesus: “Jesus, quem te ajudou a ser ministro da Palavra?” O que será que ele responderia? Não o sabemos, mas temos algumas informações que permitem dizer que ele daria esta resposta: “Quem me ajudou a ser ministro da palavra foram Maria, minha mãe, e Ana, minha avó”. Pois foi assim que a avó Lóide e a mãe Eunice ajudaram Timóteo a ser ministro da palavra (2Tm 1,5).
E se a gente perguntasse: “Jesus, o que você mais lembra daquilo que sua mãe fazia quando ela o ajudava a ser ministro da Palavra?” O que ele responderia? Acho que ele daria a mesma resposta que ele deu para aquela senhora que elogiou Maria, a mãe de Jesus:
O que Jesus mais lembrava da sua mãe era a felicidade dela em poder ouvir e praticar a palavra de Deus: “Mais Feliz quem ouve a palavra de Deus e a coloca em pratica!” Uma mãe disse outro dia: “Ser ministra da palavra é a minha maior felicidade!” E uma criança disse: “Minha catequista não me falou sobre Deus, mas ela ficou meia hora comigo quando eu estava triste. Foi tão bom. Foi Deus comigo!” E a gente pergunta: Como Maria ajudava Jesus a “crescer em tamanho, em sabedoria e em graça diante de Deus e dos homens” a ponto de ele se tornar o ministro da palavra que, até hoje, ajuda a todos nós? (Lc 2,52). Vamos ver de perto como era a vida de Jesus junto com sua mãe naqueles trinta anos lá em Nazaré:
EM CASA: na família, todos os dias.
Na segunda carta a Timóteo transparecem os costumes familiares daquele tempo. Paulo escreve para Timóteo: “Lembro-me da fé sincera que há em você, a mesma que havia antes na sua avó Lóide, depois em sua mãe Eunice e que agora, estou convencido, também há em você” (2Tim 1,5). E ainda: “Desde a infância você conhece as Sagradas Escrituras; elas têm o poder de comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo” (2Tim 3,15).
A transmissão da fé consistia na leitura e na ruminação constante da Palavra de Deus em família. Esta meditação da Palavra transparece no Cântico de Maria, todo recheado de citações de salmos e de evocações bíblicas (Lc 1,46-55). Parece até uma colcha de retalhos. Sinal de que Maria conhecia a Bíblia e que ela rezava os salmos a ponto de conhecê-los de memória1. Naquele tempo, o povo rezava muito. Todos os dias, de manhã, à tarde e à noite. De tanto rezar desde criança, eles aprendiam os salmos de memória. A mãe ou a avó os ensinavam em casa, em família (cf. 2 Tim 1,5; 3,15).
Para Jesus, a vida em família nem sempre foi fácil. Ele teve problemas. Depois que ele começou a sua vida de missionário itinerante, os parentes chegaram a pensar que ele tivesse enlouquecido (Mc 3,21). Queriam que ele voltasse para casa (Mc 3,20-21). E quando Jesus chegou a ter uma certa fama, queriam que ele aparecesse mais em público (Jo 7,3-4). Nos dois casos, Jesus teve que discordar deles (Jo 7,5-6; Mc 3,31-35).
NA SINAGOGA em comunidade, uma vez por semana.
Todo sábado Jesus participava da celebração da Palavra na sinagoga. Era o costume dele (Lc 4,16). Naquele tempo era muito raro alguém ter Bíblia em casa. Só havia Bíblia na sinagoga. O conhecimento da Bíblia vinha das reuniões semanais na sinagoga, onde se faziam duas leituras: da Lei e dos profetas (At 13,15). Em Nazaré, naquele sábado, Jesus fez a leitura do profeta Isaías (Lc 4,18,19; Is 61,1-2).
Nos sábados, a Bíblia era lida em comunidade, mas era ruminada em casa. Depois da celebração da Palavra na sinagoga, as famílias reuniam em casa para juntos partilharem o que tinham ouvido na sinagoga. Jesus conhecia bem a Bíblia. Se você for juntar todas as vezes que ele usa ou cita a Bíblia, vai perceber que ele conhecia a Bíblia de cor e salteado. Aprendeu durante aqueles 30 anos em Nazaré, participando das reuniões e celebrações da comunidade2.
NO TEMPLO no meio do povo, nas romarias de cada ano.
O ano litúrgico, marcado pelas festas de Páscoa, Pentecostes e Tendas, mantinha no povo a memória das grandes etapas da história, narradas na Bíblia. Mantinha viva nas pessoas a consciência de serem membros do povo de Deus. Aqui se situam as romarias (Ex 23,14-17), nas quais Jesus participava desde doze anos de idade, e que o

1 A Bíblia de Jerusalém registra 19 evocações ou citações da bíblia no Magnificat, o Cântico de Maria. Os Salmos são evocados 5 vezes: Sl 89,11; 98,3; 103,17; 107,9; 111,9; e o cântico de Ana 1Sm 21,1-10
2 Rabi Aquiba (Séc II), um mestre da lei do começo do século II, definiu o resultado das reuniões semanais com esta frase: “O mundo
repousa sobre três colunas: a Lei, o Culto e o Amor”. A Lei é a Bíblia, o Culto é a reza dos salmos, o Amor é a vontade de ajudar o próximo.

empolgavam tanto a ponto de permanecer em Jerusalém no meio dos doutores para aprender mais sobre as coisas de Deus, narradas na Escritura (Lc 2,41-50).
Também nós devemos dar atenção a estas mesmas três dimensões da transmissão da fé: casa, família, todos os dias; comunidade, encontros, todas as semanas; povo, matriz ou templo, o ano inteiro. Como ministros e ministras da palavra, estamos mais no ambiente da comunidade. Mas deve estar presente em nós a preocupação em manter a ligação, tanto com o ambiente da casa e da família, como com o ambiente mais abrangente das comunidades da paróquia e da diocese.
NO CONTEXTO mais amplo da escola, do trabalho, da cidade, da região A Escola, a Casa da Letra
No tempo de Jesus, em quase todos os povoados, junto da sinagoga local, havia o que eles chamavam a Casa da Letra. Era lá que os meninos – só os meninos – aprendiam a ler e escrever. Os que deviam fazer a leitura na celebração do sábado, passavam a tarde da sexta-feira na sinagoga para preparar bem a leitura a ser feita no sábado. Pois, assim diziam os rabinos: “Se a Lei de Deus é perfeita, perfeita também deve ser a sua leitura”. Durante os anos da sua juventude, Jesus deve ter passado muitas tardes de sexta-feira na sinagoga de Nazaré para preparar a leitura do sábado seguinte.
O Trabalho na roça e na carpintaria
Como todo judeu do interior, Jesus trabalhava na roça, tanto ele como Maria, sua mãe. As parábolas mostram que ele conhecia bem as coisas da roça. Além disso, Jesus era carpinteiro (Mc 6,3). Aprendeu a profissão com José, seu pai (Mt 13,55). Naquele tempo, o carpinteiro num lugar pequeno como Nazaré com poucos habitantes, era o que hoje se chama o “quebra-galho da comunidade”. Ele era chamado a toda hora para resolver os problemas do dia-a-dia do povo do lugar. Carpintaria e Roça! Trabalho duro para sustentar a família e sobreviver. Na Galileia a terra não era ruim. Havendo chuva, ela dava o suficiente para o povo viver. Mas os impostos eram altos e o controle rígido. Havia muitos cobradores de impostos (os publicanos) (Mc 2,14.15). O povo não tinha defesa contra o sistema que o explorava.
A Convivência com o povo em Nazaré
Nesta convivência de trinta anos em Nazaré, Jesus aprendeu as inúmeras coisas que também todos nós aprendemos ao longo dos anos da vida, como que naturalmente, em casa com a família e com o povo: as tradições, os costumes, os provérbios, as festas, os cânticos, os tabus, as histórias, os medos, os poderes, as doenças, os remédios caseiros. Ao mesmo tempo, Jesus percebia e sofria na carne as consequências do rigor com que os fariseus e os doutores da lei explicavam e impunham a Lei ao povo (cf. Mt15,1-9; 23,13-26; Mc 7,5-13). Percebia e sofria também o sistema iníquo dos impostos que o império romano cobrava, chegando a tirar mais da metade da renda familiar do povo para os cofres públicos, sem falar do roubo escondido dos próprios cobradores dos impostos, chamados publicanos.
Quando Jesus, aos trinta anos de idade, a partir da sua experiência de Deus como Pai, começou a agir e a falar diferente do que sempre se havia sido ensinado, o povo de Nazaré estranhou, não gostou nem acreditou (Mc 6,4-6). E quando, numa reunião da comunidade, começou a ligar a Bíblia com a vida deles (Lc 4,21), a briga foi tanta que quiseram até matá-lo (Lc 4,23-30). “Santo de casa não faz milagre”.
A Galileia dos pagãos
O povo da Galileia no Norte da Palestina era mais aberto, mais ecumênico, que o povo da Judeia no Sul. É que a Galileia estava cercada de cidades pagãs: Damasco, Tiro, Sidônia, Ptolomaida, Cesareia e a região da Decápole (Dez Cidades). Os judeus da Galileia tinham mais contato com os pagãos do que os judeus do Sul. Os do Sul achavam que o povo da Galileia era relaxado e lhe deram o apelido de “Galileia dos pagãos” (Is 8,23; Mt 4,15). A palavra “Galileia” significava “distrito”. Distrito dos Pagãos!
Este contato mais frequente com os outros povos teve influência na formação de Jesus. Sem problema nenhum, ele ia para as regiões de Tiro e Sidônia (Mc 7, 24.31), da Decápole (Mc 5,1.20; 7,31), de Cesareia de Filipe (Mc 8,27) e de Samaria (Lc 17, 11). Andando por esses lugares, ele conversava com o povo pagão (Mc 7,24-29; Jo 4,7-42), o que era proibido para os judeus (cf. At 10,28). Jesus era ecumênico. Ele reconhecia o valor e a fé de pessoas que não eram judias e aprendia com elas: com o oficial romano (Mt 8,10), com a mulher de Tiro e Sidônia (Mt 15,21-28), com a Samaritana (Jo 4,7-26).

JESUS, MINISTRO DA PALAVRA
Um pequeno Manual para Ministros e Ministras da Palavra tendo Jesus como guia e modelo
Carlos Mesters, O.Carm.
Francisco Orofino

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