02/07 Jesus vivia agarrado ao Pai “O Pai e eu somos um”
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  1. Jesus vivia agarrado ao Pai

O Evangelho de João, escrito no fim do primeiro século, resume tudo nesta frase: “A Palavra se fez carne e habitou no meio de nós, e nós contemplamos a sua glória!” (Jo 1,14) Jesus não só falava e praticava a Palavra de Deus, ele era a Palavra de Deus. Ele mesmo confirma: “Eu só falo o que o Pai me mostra para eu falar” (Jo 5,19). Realmente, este era o ponto em que Jesus mais insistia. Ele dizia: “Eu não falo por mim mesmo, mas só a partir do Pai” (Jo 5,30). “O Pai e eu somos um” (Jo 10,30). “Quem vê a mim, vê o Pai” (Jo 12,45). “Eu garanto a vocês: o Filho não pode fazer nada por sua própria conta; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho também faz” (Jo 5,19). “Eu não posso fazer nada por mim mesmo. Eu julgo conforme o que escuto e o meu julgamento é justo, porque não procuro fazer a minha vontade, e sim a vontade daquele que me enviou” (Jo 5,39). “Quem me rejeita e não aceita minhas palavras, já tem o seu juiz: a palavra que eu falei será o seu juiz no último dia. Porque eu não falei por mim mesmo. O Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. E eu sei que o mandamento dele é a vida eterna. Portanto, o que digo, eu o digo conforme o Pai me disse.” (Jo 12,48-50). “Ninguém vem ao Pai senão por mim!” (Jo 6,44).

  1. “Sendo rico se fez pobre” (2Cor 8,9)

Paulo escreve aos Coríntios: “Nosso Senhor Jesus Cristo, embora fosse rico, tornou-se pobre por causa de vocês para com a sua pobreza enriquecer vocês” (2Cor 8,9). “Jesus tinha a condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo. Assumiu a condição de servo e tornou-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). Como entender que Jesus se fez pobre?
Jesus não era cidadão romano, não tinha nenhum título, não estudou na capital, nem tirou diploma. Quando foi apresentado no templo, os pais fizeram a oferta dos pobres: duas pombas (Lc 2,24), e não um cordeiro, que era a oferta de pessoas mais ricas (Lv 12,8). Jesus não era sacerdote nem de tribo sacerdotal, não era do grupo dos fariseus, não era escriba nem do grupo dos zelotes; não era publicano, nem essênio, nem saduceu. Jesus era um leigo lá da Galileia, onde a instabilidade social era muito grande. Na comunidade local não era presbítero nem coordenador. Não tinha a proteção de nenhuma classe. Era conhecido como o carpinteiro (Mc 6,3) ou filho do carpinteiro (Mt 13,55), viveu “trinta anos” em Nazaré (Lc 3,23), não casou, porque optou para viver só para o Reino de Deus (Mt 19,10-12). Desde o nascimento sofreu as consequências do sistema opressor que marginalizava os pobres: ele nasceu fora de casa em Belém, numa estrebaria, pois “não havia lugar para eles na casa” (Lc 2,7).
Se você quiser mesmo conhecer a vida que Jesus, o Filho de Deus, viveu entre nós, olhe a vida de qualquer nazareno daquele tempo, coloque o nome de Jesus e você terá a biografia do Filho de Deus entre nós. Realmente, “sendo rico, ele se fez pobre!” Mas, o que para uns era condenação do destino, para Jesus tornou-se a manifestação da vontade do Pai. Jesus nasceu pobre e escolheu ficar do lado dos pobres, querendo ser obediente ao Pai até à morte, e “morte de Cruz” (Fl 2,8). Jesus nunca buscou uma saída individual, nunca buscou privilégios para si.

  1. Não foi fácil para Jesus ser Palavra viva de Deus

Não foi fácil ficar agarrado ao Pai e ao povo pobre. Jesus foi tentado para seguir pelo caminho do messias glorioso, nacionalista, e não pelo caminho do messias servidor e sofredor (Mt 4,1-11; Mc 8,31-33). Eis alguns destes momentos de tentação para seguir por um outro caminho:

  • Seus pais se queixaram: “Meu filho, por que você fez isso conosco?” Jesus respondeu: “Por que me procuravam? Não sabiam que devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2,48-49)
  • Os parentes queriam levá-lo para casa. Diziam: Ele está louco (Mc 3,21). Mas ouviram palavras duras: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?” (Mc 3,33).
  • João Batista mandava perguntar: “És tu ou devemos esperar por um outro?” (Mt 11,3) Jesus mandou João olhar as profecias e confrontá-las com os fatos (Mt 11,4- 6; Is 29,18-19; 35,5-6; 61,1).
  • O povo queria forçar Jesus a ser o messias-rei (Jo 6,15). Ao percebê-lo, Jesus simplesmente foi embora e se refugiou na montanha, sozinho (Jo 6,15).
  • Pedro tentou afastar Jesus do caminho da cruz e propôs o caminho do messias glorioso (Mt 16,22). Mas teve que ouvir: “Vai embora, Satanás!” (Mc 8,33).
  • Os apóstolos, entusiasmados com a popularidade, diziam: “Todos te procuram!” Jesus respondeu: “Vamos para outros lugares! Foi para isso que eu vim!” (Mc 1,38)
  • Os fariseus avisaram: “Vai embora daqui. Herodes quer te matar!” (Lc 13,31). Jesus deixou bem claro que ninguém ia impedi-lo de realizar sua missão (Lc 13,32).
  • Pedro não quer que Jesus lhe lave os pés. Jesus diz: “Se eu não lavar, não terás parte comigo” (Jo 13,8). Bastam os pés! Basta você me aceitar como messias servo e não como messias glorioso!
  • No Horto das Oliveiras, o sofrimento leva Jesus a pedir: “Pai, afasta de mim este cálice!” Mas acrescenta: “Não o que eu quero, mas o que tu queres” (Mc 14,36).
  • Na hora da prisão, a hora das trevas (Lc 22,53), aparece pela última vez a tentação de seguir pelo caminho do messias guerreiro. Mas Jesus reage: “Guarde a espada no seu lugar!” (Mt 26,52).

Apesar de tentado muitas vezes e de muitas maneiras para seguir por um outro caminho, Jesus continuava firme no rumo do Pai, até o fim. Ele buscava força na oração. Ele dizia aos discípulos: “Vigiem e rezem, para não caírem na tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41).

  1. A Oração na vida de Jesus: ficar agarrado ao Pai

Certa vez, Jesus estava rezando. Um dos discípulos disse: “Jesus, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele” (Lc 11,1). Como resposta, Jesus ensinou o Pai-Nosso. O Pai-Nosso é o salmo de Jesus (Mt 6,9-13). Os primeiros cristãos, sobretudo Lucas, conservaram uma imagem de Jesus orante, que vivia em contato permanente com o Pai. A oração é a marca da vida de Jesus. Sua vida era uma oração permanente: “Eu a cada momento faço o que o Pai me mostra para fazer!” (Jo 5,19.30). Eis alguns dos momentos em que Jesus aparece rezando:

  • Aos doze anos de idade, lá no templo, na Casa do Pai (Lc 2,46-50).
  • Na hora de ser batizado e de assumir sua missão, ele reza (Lc 3,21).
  • Na hora de iniciar a missão, passa quarenta dias no deserto (Lc 4,1-2).
  • Na hora da tentação, ele enfrenta o diabo com textos da Escritura (Lc 4,3-12).
  • Na hora de escolher os doze Apóstolos, passa a noite em oração (Lc 6,12).
  • Na hora de fazer levantamento da realidade e falar da paixão, ele rezava (Lc 9,18).
  • Diante da revelação do Evangelho aos pequenos, rezava: “Pai eu te agradeço!” (Lc 10,21)
  • Na hora de ressuscitar Lázaro, dizia: “Pai eu sei que sempre me ouves!” (Jo 11,41-42)
  • Tem o costume de participar das celebrações nas sinagogas nos sábados (Lc 4,16)
  • Participa das romarias ao templo de Jerusalém nas grandes festas (Jo 5,1).
  • Reza antes das refeições e abençoa o pão (Mc 6,41; Lc 9,16; 24,30).
  • Procura a solidão do deserto para rezar (Mc 1,35; Lc 9,18).
  • Passava noites em oração (Lc 5,16);
  • Rezando, desperta vontade de rezar nos apóstolos: “Ensina-nos a rezar” (Lc 11,1).
  • Rezou antes de um milagre: “Pai, eu sei que tu sempre me ouves” (Jo 11,41-42),
  • Rezou por Pedro para ele não desfalecer na fé (Lc 22,32).
  • A pedido das mães, dá a bênção às crianças (Mc 10,16).
  • Na crise subiu o Monte para rezar e foi transfigurado enquanto rezava (Lc 9,28).
  • Celebra a Ceia Pascal com seus discípulos (Lc 22,7-14).
  • Na hora da despedida, faz uma longa oração (Jo 17,1-26).
  • Ao sair da Ceia indo para o Horto, reza salmos com os discípulos (Mt 26,30).
  • Na agonia no Horto ele reza: “Triste é minha alma” (Mc 14,34; cf. Sl 42,5.6).
  • Na angústia da agonia pede aos três amigos para rezar com ele (Mt 26,38).
  • Na hora de ser pregado na cruz, pede perdão pelos carrascos (Lc 23,34).
  • Na cruz, reza o salmo: “Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mc 15,34; Sl 22,2)
  • Na hora da morte, outro salmo: “Em tuas mãos entrego meu espírito!” (Lc 23,46; Sl 31,6)
  • A sua última oração foi um forte grito, e morreu (Mc 15,37).

O grito na hora da morte é o grito dos pobres. É o ato de fé no Deus que ouve o grito dos pobres (Ex 2,23-25; 3,7-8). Com esta fé, a raiz da fé do povo de Deus, Jesus entrou na morte. E Deus escutou o grito. “No terceiro dia” ressuscitou Jesus, conforme a palavra dos profetas (Lc 24,45-47; Mt 16,21).

JESUS, MINISTRO DA PALAVRA
Um pequeno Manual para Ministros e Ministras da Palavra tendo Jesus como guia e modelo
Carlos Mesters, O.Carm.
Francisco Orofino

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