Hoje em dia, para saber se alguém pode ser ministro da palavra na paróquia, a gente observa primeiro como ele vive e pratica a Palavra de Deus. Pois se ele mesmo não vive bem a Palavra de Deus, como é que ele pode ser ministro da Palavra? Somos ministros não só quando exercemos nossa missão na missa ou na celebração da palavra na comunidade. Nem só quando o povo nos ouve explicar a palavra de Deus na igreja. A gente é ministro da palavra sempre: quando exerce a função de ministro na igreja e também quando descansa em casa ou anda na rua. O mesmo vale para Jesus.
Muitos gestos narrados nos evangelhos refletem a maneira como Jesus vivia e praticava a Palavra de Deus, não só na sinagoga quando falava ao povo durante as celebrações, mas também quando ele conversava com o povo na rua ou visitava as pessoas nas suas casas; ou quando trabalhava na roça, andava de barco para o outro lado do lago ou descansava em casa com a família. Jesus era a Palavra viva de Deus para todos. Eis alguns gestos de como Jesus observava a lei de Deus, a palavra de Deus:
1. O reflexo da encarnação da Palavra de Deus na vida de Jesus
* Jesus era amigo. Convivia com os discípulos, se alegrava e sofria com eles.
Compartilhava tudo, até mesmo o segredo do Pai (Jo 15,15).
* Carinhoso, Jesus provocava respostas fortes de amor: da moça do perfume (Lc 7,37- 38); de um grupo de mulheres da Galileia (Lc 8,2-3; Mc 15,40-41); de Pedro (Jo 6,67; 21,15-17); de Tomé (Jo 11,16); da mulher do frasco de perfume caríssimo (Mc 14,3-9), etc…
* Atencioso, preocupava-se com a alimentação dos discípulos (Jo 21,9), cuidava do descanso deles e procurava estar a sós com eles para descansar (Mc 6,31).
* Pacífico, inspirava paz e reconciliação: “A Paz esteja com vocês!” (Jo 20,19); “Não tenham medo, vocês valem muito mais do que muitos pardais” (Mt 10,26-33); mandava perdoar setenta vezes sete (Mt 18,22); convidava os pobres e os oprimidos: “Venham todos a mim” (Mt 11,28).
* Compreensivo e comprometido, aceitava os discípulos do jeito que eles eram, com todos os seus limites, até mesmo a fuga, a negação e a traição, sem romper com eles (Mc 14,27-28), e defendia-os quando eram criticados pelos adversários (Mc 2,18-19).
* Sábio, conhecia a fragilidade dos seus discípulos, sabia o que se passava no coração deles e, por isso, insistia na vigilância e na oração (Lc 11,5-13; Mt 6,5-15).
* Homem de oração, Jesus rezava muito e despertava vontade de rezar: “Senhor, ensina-nos a rezar!” (Lc 11,1-4; cf. Lc 3,21; 6,12; Jo 11,41-42; Mt 11,25; Jo 17,1-26;
Lc 23,46; Mc 15,34).
Numa palavra, como dizia o papa São Leão Magno, Jesus era humano, muito humano, “tão humano como só Deus pode ser humano”.
2. Jesus escutava a voz do Pai no grito do pobre
Certa vez, quando Jesus estava na região de Tiro e Sidônia, terra dos pagãos, uma mulher de outra raça e de outra religião chegou perto de Jesus e começou a pedir pela filha que estava sendo atormentada por um espírito impuro (Mc 7,25-26). Mas Jesus não atendeu nem respondeu à mulher. Até os discípulos estranharam e pediram para ele mandar a mulher embora, pois ela gritava muito. Jesus respondeu: “Não fui enviado a não ser para as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15,24). Ou seja: “Não posso atender. Sinto muito. O Pai não quer!” Mas a mulher continuava gritando. Jesus respondeu: “Não convém pegar o pão dos filhos e dar para os cachorrinhos” (Mt 15,26). A mulher respondeu: “Sim, Senhor, é verdade, mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos”. Jesus respondeu: “Ó mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!” E a filha ficou curada (Mt 15,27-28)
E a gente pergunta: Jesus desobedeceu ao Pai? Pois ele acabava de dizer que o Pai não queria, e logo depois ele atendeu a mulher. Desobedeceu? Não, ele obedeceu! Ele escutou a voz do Pai no grito da mãe aflita pela filha doente. Obedeceu ao Pai e curou a menina.
Naquele momento Jesus descobriu que a sua missão era não só para o povo judeu, mas também para todos os povos. O grito de mulher pagã ajudou Jesus a entender melhor a sua missão como Messias. O amor daquela mãe pela filha doente abriu um novo horizonte na vida de Jesus. Era observando as reações e as atitudes das pessoas, que Jesus escutava a voz do Pai.
3. Gestos e atitudes de como Jesus ouvia e encarnava Palavra de Deus.
Eis mais alguns dos muitos casos de Jesus ouvir e praticar a palavra de Deus:
1. O grito do cego Bartimeu: “Jesus tem dó de mim!” Todos mandavam Bartimeu ficar calado. O grito os incomodava. Mas ele gritava mais alto. Jesus escutou e mandou chamá-lo e perguntou: “O que você quer?” -“Quero ver”. Jesus diz: “Tua fé te curou!” E o cego acabou enxergando (Mc 10,46-52)
2. A mulher adúltera: Os doutores da Lei e os fariseus levaram a mulher até Jesus e perguntam: “A Lei manda apedrejá-la. E o senhor o que acha?” Era uma armadilha. Se dissesse: “Aplique a lei”, diriam: “Ele mandou matar a mulher”. Se dissesse: “Não aplique!” Diriam: “Nem a Lei ele observa!”. Jesus se inclinou e começou a escrever no chão. Eles insistem. Jesus se levanta e diz: “Quem for sem pecado pode jogar a primeira pedra. Saíram todos, a começar dos mais velhos. Jesus pergunta para a mulher: “Ninguém te condenou?” -“Não senhor!” -“Eu também não te condeno. Vai em paz e não faz mais esse pecado”. (Jo 8,3-11).
3. O choro da moça do perfume: Jesus estava jantando na casa de um fariseu. Uma moça entrou e começa a beijar os pés de Jesus. Era uma prostituta. Jesus a acolhe, ele não tirou o pé. O fariseu o condena “Se ele fosse um profeta, saberia que tipo de mulher é essa que lhe toca os pés!” Jesus deixou a moça tocar nele, molhar os pés com suas lágrimas e enxuga-los com os cabelos. Jesus disse ao fariseu: “A quem muito ama, muito será perdoado” (Lc 7,36-50).
4. O pranto da mulher encurvada. Havia dezoito anos ela vivia curvada. Jesus tocou nela: “Mulher, você está livre de sua doença!” E ela ficou boa. Era dia de sábado. O chefe da sinagoga gritou: “Há seis dias para trabalhar. Venham nesses dias para serem curados, mas não em dia de sábado!”. A reação de Jesus foi imediata: “Hipócritas! Cada um de vocês solta do curral o boi ou o jumento para dar-lhe de beber, mesmo que seja em dia de sábado! Aqui está uma filha de Abraão que Satanás amarrou durante dezoito anos. Será que não deveria ser libertada dessa prisão em dia de sábado?” E toda a multidão se alegrava com as maravilhas que Jesus fazia” (Lc13,10-17)
5. Deixem vir a mim as crianças! As mães levavam as crianças para Jesus dar a bênção e tocar nelas. Os discípulos as afastavam. Jesus ficou zangado: “Deixem as crianças vir a mim. Não as proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas. Eu garanto a vocês: quem não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele.” E Jesus abraçou as crianças e abençoou-as, pondo a mão sobre elas” (Mc 10,14-16).
JESUS, MINISTRO DA PALAVRA
Um pequeno Manual para Ministros e Ministras da Palavra tendo Jesus como guia e modelo
Carlos Mesters, O.Carm.
Francisco Orofino