“Um boneco de sal percorreu milhares de quilômetros de terra firme, até que, finalmente, chegou ao mar. Ficou fascinado diante daquela massa, móvel e estranha, totalmente diferente de tudo quanto tinha visto até então.
– Quem és tu? perguntou o boneco de sal ao mar.
Com um sorriso, o mar respondeu:
– Entra e comprova-o tu mesmo!
E o boneco entrou no mar. Mas, à medida que se adentrava nele, ia dissolvendo-se, até que não restasse mais nada dele. Antes que se dissolvesse o último pedaço, o boneco exclamou assombrado:
“Agora já sei quem sou!”
Todo ser humano possui dentro de si uma profundidade que é o seu mistério íntimo e pessoal. Trata-se do “coração”, aquele lugar santo, intocável, onde reside o lado mais positivo da pessoa, onde a pessoa encontra a sua identidade pessoal. O coração é a sua dimensão mais verdadeira, sede das decisões vitais, lugar das riquezas pessoais, onde se vive o melhor de si mesmo, onde se encontram os dinamismos do seu crescimento, de onde partem as suas aspirações e desejos fundamentais, onde percebe as dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.
É no coração, “última solidão do ser”, que Deus marca encontro conosco.
Na oração, nosso coração se encontra diante da revelação da sua identidade pessoal, porque está enraizada na própria identidade de Deus.
A pergunta básica da oração: “Quem sou eu, diante do Senhor?” supõe uma tarefa pessoal de assumir a própria experiência e responsabilizar-se por ela. Sem identificação será quase impossível um encontro profundo com o Senhor.
O encontro “consigo mesmo” lhe aproxima do “conhecimento” de Deus.
Uma oração bem feita, com lucidez, liberdade e escuta de toda sua realidade pessoal acelera o seu processo de integração e amplia sua vida para além de suas pequenas fronteiras.
Com efeito, orar é aproximar-nos da “Verdade que nos faz livres”: livre para ser você mesmo, chegar a ser aquilo a que é chamado a ser.
Isto não é fácil, pois em nossa experiência há fatos ameaçadores, imagens negativas de nós mesmos; freqüentemente preferimos ignorar partes de nós mesmos, apagar da consciência episódios pessoais; nossa identidade se dissocia e se desintegra.
Uma pessoa amadurece reconhecendo suas experiências e vivências, assumindo-as em sua totalidade, expressando-as, integrando-as, configurando uma identidade que tem consciência da realidade de sua vida.
A oração é o lugar natural dessa descoberta:
dentro da Palavra de Deus está escondida nossa identidade. A Palavra de Deus fala daquilo que somos chamados a ser. Diante de Deus, não há o que esconder… a oração nos faz transparentes, revela nossa imagem real, nos ajuda a identificar-nos, para saber “quem somos
Por isso a oração cristã não é só adoração e culto. É também descoberta de si mesmo, da própria realidade pessoal, do mistério que habita em nós.
Na experiência de oração, o importante não é o que eu faço, mas o reconhecimento amoroso e agradecido daquilo que Deus realiza. É nessa manifestação divina que você descobre-se a si mesmo.
Você começa a descobrir o seu ser (único, original, sagrado…) quando “mergulha” no misterioso relacionamento com Deus e quando permite que o “mistério experimentado” se torne Fonte de sua identidade.
Mais ainda, você saberá melhor quem é, esquecendo-se de si mesmo, aceitando perder-se, deixando que o Amor o liberte de seu pequeno ego.