O Evangelho de João, escrito no fim do primeiro século, resume tudo nesta frase: “A Palavra se fez carne e habitou no meio de nós, e nós contemplamos a sua glória!” (Jo 1,14) Jesus não só falava e praticava a Palavra de Deus, ele era a Palavra de Deus. Ele mesmo confirma: “Eu só falo o que o Pai me mostra para eu falar” (Jo 5,19). Realmente, este era o ponto em que Jesus mais insistia. Ele dizia: “Eu não falo por mim mesmo, mas só a partir do Pai” (Jo 5,30). “O Pai e eu somos um” (Jo 10,30). “Quem vê a mim, vê o Pai” (Jo 12,45). “Eu garanto a vocês: o Filho não pode fazer nada por sua própria conta; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho também faz” (Jo 5,19). “Eu não posso fazer nada por mim mesmo. Eu julgo conforme o que escuto e o meu julgamento é justo, porque não procuro fazer a minha vontade, e sim a vontade daquele que me enviou” (Jo 5,39). “Quem me rejeita e não aceita minhas palavras, já tem o seu juiz: a palavra que eu falei será o seu juiz no último dia. Porque eu não falei por mim mesmo. O Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. E eu sei que o mandamento dele é a vida eterna. Portanto, o que digo, eu o digo conforme o Pai me disse.” (Jo 12,48-50). “Ninguém vem ao Pai senão por mim!” (Jo 6,44).
Paulo escreve aos Coríntios: “Nosso Senhor Jesus Cristo, embora fosse rico, tornou-se pobre por causa de vocês para com a sua pobreza enriquecer vocês” (2Cor 8,9). “Jesus tinha a condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo. Assumiu a condição de servo e tornou-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). Como entender que Jesus se fez pobre?
Jesus não era cidadão romano, não tinha nenhum título, não estudou na capital, nem tirou diploma. Quando foi apresentado no templo, os pais fizeram a oferta dos pobres: duas pombas (Lc 2,24), e não um cordeiro, que era a oferta de pessoas mais ricas (Lv 12,8). Jesus não era sacerdote nem de tribo sacerdotal, não era do grupo dos fariseus, não era escriba nem do grupo dos zelotes; não era publicano, nem essênio, nem saduceu. Jesus era um leigo lá da Galileia, onde a instabilidade social era muito grande. Na comunidade local não era presbítero nem coordenador. Não tinha a proteção de nenhuma classe. Era conhecido como o carpinteiro (Mc 6,3) ou filho do carpinteiro (Mt 13,55), viveu “trinta anos” em Nazaré (Lc 3,23), não casou, porque optou para viver só para o Reino de Deus (Mt 19,10-12). Desde o nascimento sofreu as consequências do sistema opressor que marginalizava os pobres: ele nasceu fora de casa em Belém, numa estrebaria, pois “não havia lugar para eles na casa” (Lc 2,7).
Se você quiser mesmo conhecer a vida que Jesus, o Filho de Deus, viveu entre nós, olhe a vida de qualquer nazareno daquele tempo, coloque o nome de Jesus e você terá a biografia do Filho de Deus entre nós. Realmente, “sendo rico, ele se fez pobre!” Mas, o que para uns era condenação do destino, para Jesus tornou-se a manifestação da vontade do Pai. Jesus nasceu pobre e escolheu ficar do lado dos pobres, querendo ser obediente ao Pai até à morte, e “morte de Cruz” (Fl 2,8). Jesus nunca buscou uma saída individual, nunca buscou privilégios para si.
Não foi fácil ficar agarrado ao Pai e ao povo pobre. Jesus foi tentado para seguir pelo caminho do messias glorioso, nacionalista, e não pelo caminho do messias servidor e sofredor (Mt 4,1-11; Mc 8,31-33). Eis alguns destes momentos de tentação para seguir por um outro caminho:
Apesar de tentado muitas vezes e de muitas maneiras para seguir por um outro caminho, Jesus continuava firme no rumo do Pai, até o fim. Ele buscava força na oração. Ele dizia aos discípulos: “Vigiem e rezem, para não caírem na tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41).
Certa vez, Jesus estava rezando. Um dos discípulos disse: “Jesus, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele” (Lc 11,1). Como resposta, Jesus ensinou o Pai-Nosso. O Pai-Nosso é o salmo de Jesus (Mt 6,9-13). Os primeiros cristãos, sobretudo Lucas, conservaram uma imagem de Jesus orante, que vivia em contato permanente com o Pai. A oração é a marca da vida de Jesus. Sua vida era uma oração permanente: “Eu a cada momento faço o que o Pai me mostra para fazer!” (Jo 5,19.30). Eis alguns dos momentos em que Jesus aparece rezando:
O grito na hora da morte é o grito dos pobres. É o ato de fé no Deus que ouve o grito dos pobres (Ex 2,23-25; 3,7-8). Com esta fé, a raiz da fé do povo de Deus, Jesus entrou na morte. E Deus escutou o grito. “No terceiro dia” ressuscitou Jesus, conforme a palavra dos profetas (Lc 24,45-47; Mt 16,21).
JESUS, MINISTRO DA PALAVRA
Um pequeno Manual para Ministros e Ministras da Palavra tendo Jesus como guia e modelo
Carlos Mesters, O.Carm.
Francisco Orofino