Ser Coordenador(a) de Pastoral
Seu significado está estreitamente ligado à alegoria do “Bom Pastor”, Jesus intitulou-se pastor das ovelhas. A pastoral, portanto está diretamente ligada a ação do pastor no cuidado das ovelhas. “Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância. Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10,10).
Essa ação pastoral é assumida pela comunidade como um todo, onde todos são pastores uns dos outros.
Trabalho pastoral, portanto, é toda a tarefa vocacional específica de serviço desenvolvida pela comunidade local, a fim de contribuir no processo de evangelização, transformando os reinos deste mundo, no reino de nosso Senhor Jesus Cristo.
Nenhuma tarefa pastoral específica pode ser confundida com a totalidade da ação da Igreja, pois esta será sempre composta de um conjunto de pastorais sempre interligadas umas as outras.
Sendo a Igreja como prolongamento de Cristo, no tempo e no espaço, pode-se dizer: PASTORAL é toda atividade da Igreja. É a própria vida da Igreja quando age e se manifesta em cada situação do mundo atual.
Fazer pastoral é continuar a missão de Jesus. É serviço, é ação, trabalho desenvolvido a favor da vida. É ação organizada da Igreja.
A pastoral é o agir da Igreja no mundo! Similar a ação dos pastores, tem como intenção coordenar, “animar”, de “defender” e “alimentar” a evangelização.
O pastor nunca age sozinho, mas em unidade com a Igreja de Cristo; “na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
A pastoral é essencialmente comunitária. É toda a Igreja, hierarquia e leigos, que é responsável pela pastoral. Cada um, porém, conforme seus dons e carismas, isto é, na medida em que participa de Cristo-Pastor.
O objeto da PASTORAL é todo homem e mulher no seu todo (a), isto é, corpo, alma e espírito, que deve ser salvo. Quanto à mensagem a comunicar, refere-se ao Cristo vivo, real, concreto (não apenas uma noção abstrata), o Cristo que é, ao mesmo tempo, doutrina e vida da Igreja, o qual forma uma só unidade com a sua Igreja, o Cristo total, seu Corpo Místico. Portanto, não pode haver “dicotomia” entre doutrina e vida de Igreja.
Objetivos da pastoral “Evangelizar, a partir de Jesus Cristo, na força do Espírito santo, como Igreja discípula, missionária, profética e misericordiosa, alimentada pela Palavra de DEUS e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, assumindo sua missão neste chão da Amazônia, consciente do mandato de ir ao encontro das pessoas, para que todos tenham vida, rumo ao Reino definitivo”
Funções pastorais A Igreja realiza a sua ação através de três funções pastorais:
Função profética: abrange as diversas formas do ministério da Palavra de Deus (evangelização, catequese e homilia), bem como a formação espiritual dos;
Função litúrgica: refere-se à celebração dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia, à oração e aos sacramentais;
Função real: diz respeito à promoção e orientação das comunidades, à organização da caridade e à animação cristã das realidades terrestres. Neste último aspecto, a ação da Igreja engloba campos da sociedade como a saúde, a juventude, a solidariedade social e a educação.
Os agentes de pastoral são servidores de Cristo e trabalham para que o projeto de Deus seja conhecido e vivido.
A COORDENAÇÂO
A coordenação de pastoral é um serviço importantíssimo nas comunidades. A boa coordenação, aberta a Deus e às pessoas, faz a comunidade prosperar e o Reino de Deus acontecer. É um serviço que deve proporcionar prazer e felicidade.
A coordenação deve ser mais alegria que sofrimento, porque a palavra “Evangelho”, em si, é “Boa Notícia”, e um coordenador estressado, desanimado ou acomodado, não consegue anunciá-lo bem à comunidade.
O COORDENADOR JESUS
Na bíblia, podemos analisar Jesus coordenador:
1) João 13, 1-9 (O lava-pés): Jesus amou seus coordenados ensinando que a coordenação é um serviço à comunidade; o serviço deve ser a marca da comunidade e não a dominação e a servidão. Ensinou que todo trabalho é importante.
2) Marcos 4, 35-41 (A tempestade acalmada): Jesus vê que na outra margem há gente que precisa dele. No barco, acalma os discípulos para depois ensinar que se ele está presente ninguém perece. Às vezes, parece que Jesus dorme nos dias de hoje… O coordenador acalma, transmite esperança e coragem; mantém o equilíbrio, sem apavorar-se diante das dificuldades.
O QUE FAZ UM COORDENADOR?
1) Ele inclui as pessoas. O coordenador cristão soma os dons que o grupo possui.
2) Ele anima e conduz o grupo, nas turbulências (acalmando) e na calmaria (provocando movimento).
3) Ele leva o grupo a atingir seu objetivo.
4) Ele se apresenta para ajudar a resolver os problemas, nunca para provocá-los.
5) Ele delega responsabilidades, tarefas e poderes de decisão.
DE QUE PRECISA PARA COORDENAR BEM?
1) Transitar pelo grupo todo – manter diálogo com todos.
2) Ter uma caminhada comum com o grupo – um bom tempo de participação, para saber o valor das conquistas e o sofrimento dos erros cometidos.
3) Conhecer bem o assunto que coordena e ter noções básicas de outros assuntos ligados ao que coordena.
4) Saber decidir: pessoas indecisas transmitem insegurança. Após examinar bem a realidade, ouvir os envolvidos e buscar o auxílio necessário; cabe ao coordenador a decisão sobre a maioria dos assuntos. Os mais importantes, é claro, são decididos pelo grupo.
5) Ser equilibrado: não estar excessivamente animado ou desanimado; hoje querendo tudo e amanhã nada, controlando seus impulsos para manter-se na linha do objetivo traçado pelo grupo. A abertura para o diálogo com o mundo começa pelo diálogo interior
6) Conhecer seus pontos fortes e fracos: ninguém é perfeito, mas o coordenador será chamado a falar em público, escrever, dialogar, negociar e organizar. Assim, ele deve desenvolver suas aptidões e buscar auxílio para suprir suas limitações.
7) Observar, ouvir e falar com seu grupo: cada pessoa é importante, cada fato deve ser trabalhado e estudado, como também a realidade (particular e coletiva) nunca deve ser esquecida.
8) Fazer partilha com outras pastorais: fomos acostumados a resolvermos apenas os problemas do nosso grupo imediato. O coordenador precisa articular-se com outros coordenadores para resolver problemas comuns, sendo verdadeiramente “Igreja de Cristo”. Colocando em pratica a Pastoral de Conjunto.
9) Fidelidade: afinal, o Reino que buscamos não é meu e nem seu, é de Deus.
COORDENAR EM EQUIPE
A melhor maneira de coordenar se realiza em comunidade, em equipe. Um coordenador que fica no cargo por anos seguidos tende a se desgastar por tanto trabalhar ou a acomodar-se.
O primeiro foge quando pode e o segundo tende a se perpetuar no poder. A solução é montar uma equipe partindo das necessidades do grupo, criando assessorias (e preparando novos líderes): secretário, assessor de comunicação, de liturgia, de formação, de eventos, etc…
É preciso dividir tarefas, responsabilidades e autonomia, formando uma “família” que promova reuniões regulares e divida alegrias e desafios.
Se o Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda, pequenino, que se torna a maior das árvores, a coordenação deve ser simples, mas com solidez e competência, criando raízes em Jesus Cristo.
SOMBRAS PASTORAIS (texto extraido do Site da Diocese de Santo André)
1. Messianismo. É a mania de fazer planos pastorais, sem consultar a vontade de Deus. Daí vem o estrelismo das pessoas que se projetam a si mesmas. Deus fica em segundo lugar, serve de estepe para que nossos planos não falhem segundo nossa vontade, nossas ideologias e nossas óticas.
2. Ativismo. Pouca oração e muita agitação. Vale o que eu faço e não o que eu sou. A pastoral vira profissão, burocracia. O ativismo leva à impaciência apostólica. É fruto do vazio interior e da vaidade pessoal.
3. Perfeccionismo. Busca-se o êxito, o sucesso, o resultado. A confiança não está na graça de Deus mas nos planos e ações bem escritas nos livros pastorais e nas pessoas envolvidas. Tudo deve dar certo.
4. Mutismo. Consiste em calar verdades, omitir correções e falar só o que agrada. As grandes verdades silenciadas são: a castidade, o purgatório, o inferno, a infidelidade conjugal, a renuncia. O que importa é agradar. Por isso, há falta de profetismo.
5. Pessimismo: Prega-se problemas, incertezas, azedumes e queixas. A Palavra de Deus não é proclamada. No seu lugar estão as dúvidas, suspeitas e vazios do pregador, do catequista, do pastoralista. Joga-se sobre o povo, problemas pessoais não resolvidos.
6. Falta de esperança. É o pecado do reducionismo que consiste em reduzir a esperança, não crer na ressurreição, na eternidade, na vida futura. Tudo fica reduzido a este mundo, à matéria, à ciência experimental. Sem esperança não há consistência.
7. Burocracia. As pessoas são deixadas de lado e esquecidas. Cumprem-se as leis, marca-se o ponto, tudo vira pura burocracia eclesiástica e administração. O burocrata cumpre o dever, mas abandona as pessoas, os pobres, os sofredores. O que importa é o funcionamento da máquina eclesial.
8. Discriminação. Uns são privilegiados e outros descartados. Uns bem recebidos, outros rejeitados. Faz-se acepção de pessoas. Os ricos, os amigos, os privilegiados têm vez, os outros são discriminados.
9. Sectarismo. É a falta de abertura, de pluralismo e de ecumenismo. Sectário é que secciona, busca o que lhe interessa e agrada. É o grupismo. Só meu grupo, minha espiritualidade, meu movimento, minha pastoral, meu interesse é que vale. O sectário ignora o outro, o diferente e o despreza, critica e combate. Falta o espírito de comunhão e de unidade. É a pastoral de gavetas e sem articulação que acaba no paroquialismo.
10. Carreirismo. É quem busca promoção. Fecha-se na sua experiência e desfaz a experiência dos outros. Eu é que estou certo os outros estão errados. O carreirista acha-se insubstituível e infalível. Não solta os cargos. Perpetua-se no poder. É grudado na sua função. Mata a pastoral pelo apego ao poder. Não quer mudança nem transferência. Não dá lugar para os outros.
11. Individualismo. É quem espera gratificações, recompensas, aplausos e louvores. Precisa toda hora de elogios, pois do contrário cai em aflição ou na crítica azeda. O que vale é a sua imagem, sua fama, a projeção de si.
12. Perda da alegria. Faz tudo por obrigação, cai na rotina, vive na superficialidade. Não tem entusiasmo perdeu a alegria e o humor. Vem a amargura e a dramatização da vida.
13. A mesmice. É quem perdeu a criatividade, caiu na instalação, na mediocridade. Faz tudo sem amor, instala-se nos próprios defeitos e os justifica. Tem explicação para todos os seus erros e desleixos. Não muda e não se dispõe a mudar.
14. Vitimismo. É quem se acha injustiçado, rejeitado e por isso vive na apatia, arranja doenças, apega-se a defeitos psicológicos para justificar o vitimismo. Vive mais cuidando de si do que da pastoral do rebanho.
15. A inveja pastoral. Consiste em menosprezar o trabalho dos outros, aumentar seus defeitos, competir e tratar os outros com cinismo. O invejoso procura bloquear o sucesso alheio. Acontece aqui a “contradição dos bons”, ou seja, não recebemos apoio e incentivo dos nossos colegas, amigos, irmãos de caminhada, pelo contrário, somos invejados, incompreendidos e criticados.
Para uma sadia evangelização precisamos da “conversão pastoral” pela qual venceremos as sombras pastorais, como aponta o Documento de Aparecida.
Dom Orlando Brandes (Arcebispo de Londrina)
Coordenador (a): Reze, peça sabedoria, confesse, comungue, leia muito, informe-se, cresça! Entregue-se nas mãos de Deus e seja feliz!
Bibliografia:Coordenador de pastoral – Um serviço à comunidade, Ed. Vozes