No dia em que a Igreja celebra a festa de um de seus grandes santos, aquele a quem o Senhor pediu que reconstruísse sua Igreja, um de seus homônimos, Francisco de Roma, inicia uma nova que se espera frutífera, uma tentativa de promover uma Igreja sinodal, que não é algo novo, mas algo que tem sido dificultado há muito tempo.
Uma tarefa que foi confiada a todos os batizados e que envolveu muitas vozes ao longo de um processo sinodal que começou há dois anos. Um tempo de escuta, de diálogo, que resultou em elementos que agora ajudarão no processo de discernimento, que nada mais é do que uma busca pela verdade em um mundo quebrado. Todos nós somos chamados a nos perguntar, mas especialmente os membros do Sínodo, o que temos a oferecer, o que temos a contribuir nesse caminho.
Um caminho que deve ser percorrido sob as premissas da esperança e da alegria, que não podemos esquecer que são uma expressão clara da presença de Deus. É bom lembrar as palavras de Teilhard de Chardin, que diz que “ninguém pode acreditar em cristãos miseráveis que não transmitem significado, testemunho, verdade, beleza em sua visão do mundo”. Ou, em palavras menos poéticas, o apelo do Papa Francisco para que não sejamos “cristãos com cara de vinagre”.
Fazemos parte de uma Igreja inspirada na Trindade, a melhor comunidade, a comunidade que se complementa, que é um sinal de harmonia, de uma sinodalidade que deve ser gerada na Igreja, para a qual este Sínodo é uma clara oportunidade. Mas precisamos ser corajosos, agir com parresia para seguir a voz do Espírito e responder aos desafios que o mundo de hoje está colocando para a Igreja, para que ela possa responder aos sinais dos tempos. É uma oportunidade de renascer, de superar medos, resistências e, fortalecendo o caminho do discernimento, encontrar a verdadeira Beleza.
Para isso “não nos serve ter uma visão imanente, feita de estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas. Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar ou um plano de reforma. Não. Estamos aqui para caminhar juntos, com o olhar de Jesus”, como disse o Santo Padre em sua homilia na missa de abertura, que também contou com a presença dos novos cardeais que receberam o barrete no sábado, 30 de setembro.
Um Sínodo que quer recuperar o espírito do Concílio, algo que Francisco deu uma piscadela ao citar as palavras de João XXIII no discurso de abertura do último Concílio: “Acima de tudo, a Igreja não deve se afastar do sagrado patrimônio da verdade recebido dos Padres; mas, ao mesmo tempo, deve olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo de hoje, que abriram novos caminhos para o apostolado católico”, palavras de grande relevância para o mundo de hoje.
Esses novos caminhos são o grande desafio deste Sínodo. É um tempo de sinodalidade, de caminhar juntos, de superar “o espírito de divisão e de conflito” e de gerar espaços de comunhão, como o Papa assinalou. Para isso, o Sínodo é desafiado a “colocar Deus novamente no centro do nosso olhar, a ser uma Igreja que vê a humanidade com misericórdia. Uma Igreja unida e fraterna, que escuta e dialoga; uma Igreja que abençoa e encoraja, que ajuda aqueles que buscam o Senhor, que sacode saudavelmente os indiferentes, que põe em movimento itinerários para instruir as pessoas na beleza da fé. Uma Igreja que tem Deus em seu centro e, portanto, não divisiva internamente nem dura externamente”, disse Francisco.
A grande questão é como conseguir isso, como ser uma Igreja acolhedora, cordial, amigável, sem medo de confrontos, uma Igreja que “se torne um colóquio”, como disse Paulo VI. Uma Igreja que não está sobrecarregada, que não é rígida nem morna, que não está cansada nem fechada em si mesma. Tudo isso sem esquecer que o Espírito é o protagonista. Quase um mês, até 29 de outubro, para progredir em tudo isso.
Por: Vatican News