1. O amor – caridade: base da Missão
A Missão é uma identidade (DGAE 2019- 2023) 21
O Papa Bento XVI inicia a carta encíclica Deus Caritas Est com estes pensamentos: « Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16). Estas palavras da I Carta de João exprimem, com singular clareza, o centro da fé cristã: a imagem cristã de Deus e também a consequente imagem do homem e do seu caminho. Além disso, no mesmo versículo, João oferece-nos, por assim dizer, uma fórmula sintética da existência cristã: “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem”.
E o papa acrescenta: “Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. No seu Evangelho, João tinha expressado este acontecimento com as palavras seguintes: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n’Ele crer (…) tenha a vida eterna” (3, 16). Com a centralidade do amor, a fé cristã acolheu o núcleo da fé de Israel e, ao mesmo tempo, deu a este núcleo uma nova profundidade e amplitude” (DCE 1).
O ser cristão está fundamentalmente relacionado com o Amor – Caridade -, pois Jesus Cristo nos ama plenamente, por isso entrega sua vida. O amor (Caridade) tem em si um dinamismo tão forte que é capaz de transformar a vida das pessoas, das famílias, das comunidades eclesiais e da sociedade.
Quando Jesus chama pessoas para o seguirem, ele deseja que o Amor seja a marca do discípulo (a). Por isso, ele proclama: Como o Pai me amou também eu vos amei… Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros… Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando (cf Jo 13; 15).
Paulo vai percorrendo o dinamismo do Amor.
O exemplo de Paulo nos mostra claramente como o amor transformou a vida de quem “blasfemava, perseguia e agia com violência” (1Tm 1,13) em discípulo missionário. Ele assume o caminho do dinamismo do Amor, por isso pode afirmar. “Ele me amou e se entregou por mim” (Gal.2,20). “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra” (Ef.5,25).
Para Paulo, a caridade inclui a assistência imediata como a iniciativa de fazer a coleta em favor da comunidade em Jerusalém; mas ia mais longe; pois se tratava de anunciar a Palavra de Deus, dar testemunho da fé e formar comunidades cristãs. Para isso, era necessário entregar a sua vida. Toda a sua vida estava marcada pelo Amor de Jesus Cristo. Paulo então afirma: “Ele me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). E acrescenta: “Cristo nos amou e se entregou por nós, como oferta e sacrifício de odor suave” (Ef.5,2). Fruto dessa experiência é o hino belo e profundo hino ao Amor- Caridade: “Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até entregasse meu corpo para me gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria”.
2. Desafios que enfrentamos:
O discípulo missionário (a) encontra vários desafios na vivência do amor – caridade. Destacamos alguns:
• Subjetivismo – o eu individual como centro – fechamento em si.
• Cultura do descartável, passageiro, líquido. As referências são também passageiras.
• Cultura do consumo – sou compelido a consumir sempre, por isso estou em busca de novidades e não da Novidade.
• O mundo urbano onde a pessoa é uma desconhecida em meio a milhares de outras pessoas.
• Cultura da insensibilidade, da indiferença que ignora a situação dos que sofrem também fruto de uma economia da exclusão e da desigualdade social, economia que mata, de um sistema social e econômico que é injusto em sua raiz. Nessa economia, os excluídos são considerados resíduos, “sobras” (EG 53).
• A (crise mais profunda é a crise antropológica com a negação da primazia do ser humano EG 55).
• “Nos agentes pastorais, independentemente do estilo espiritual ou da linha de pensamento que possam ter, desenvolve-se um relativismo ainda mais perigoso que o doutrinal. (…) Este relativismo prático é agir como se Deus não existisse, decidir como se os pobres não existissem, sonhar como se os outros não existissem, trabalhar como se aqueles que não receberam o anúncio não existissem” (EG 80). Isso leva a um estilo de vida que não considera o doa a vida pelo bem das outras pessoas.
• A cultura moderna traz uma proposta centrada no interesse e interesse imediato, daí ser comum a pergunta: “O que vou ganhar com isso?” “Isso, que benefício vai me trazer agora?”.
• Redução da fé e da vivência como Igreja ao âmbito do privado, do íntimo (EG 64), sem reconhecer a ação do Espírito Santo, as “sementes do Verbo”.
• Nesse tempo de pandemia, há desafios bem concretos, como o do distanciamento social que nos faz evitar os contatos. Mas, temos muitos exemplos de quem está vivenciando o amor-caridade nesse tempo.
3. Ponto de partida: Jesus Cristo viveu, em sua vida missionária, o amor-caridade de modo pleno. Ele é o bom Samaritano, é aquele que está atento às pessoas, que sempre as acolhe, que é presença misericordiosa e vai ao encontro dos seus irmãos e irmãs. Ele forma discípulos para serem missionários do amor-caridade e nos convoca para esta grande missão. O amor-caridade é como uma construção que é feita de pequenos e grandes elementos.
O discípulo missionário de Jesus Cristo recebe um claro mandato: “Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e na Samaria, até os confins da terra” (At 1,8). Ser testemunha do amor-caridade que nasce da experiência do encontro com Jesus Cristo que amou os seus que estavam no mundo e amou-os até o fim (cf. Jo 13,1).
Há um profundo dinamismo missionário da vida de Jesus Cristo. Ele está sempre saindo para ir ao encontro (Mc 1,38-39) e envia seus discípulos (Mc 16,15; Jo 20,21-22). A vida missionária de Jesus é fonte para nossa vida e missão.
Jesus dá atenção a pessoas, socorre pessoas, grupos e se identifica com os pobres. Vejamos o que nos diz o papa São João Paulo II: “Partindo da comunhão dentro da Igreja, a caridade abre-se, por sua natureza, ao serviço universal, frutificando no compromisso dum amor ativo e concreto por cada ser humano. Este âmbito qualifica de modo igualmente decisivo a vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral. É de se esperar que o século e o milénio que estão a começar hão de ver a dedicação a que pode levar a caridade para com os mais pobres. Se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo, sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar: « Porque tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e recolhestes-Me; estava nu e destes-Me de vestir; adoeci e visitastes-Me; estive na prisão e fostes ter Comigo » (Mt 25,35-36). Esta página não é um mero convite à caridade, mas uma página de cristologia que projeta um feixe de luz sobre o mistério de Cristo. Nesta página, não menos do que o faz com a vertente da ortodoxia, a Igreja mede a sua fidelidade de Esposa de Cristo.
É certo que ninguém pode ser excluído do nosso amor, uma vez que, “pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-Se de certo modo a cada homem”; 35 mas, segundo as palavras inequivocáveis do Evangelho que acabámos de referir, há na pessoa dos pobres uma especial presença de Cristo, obrigando a Igreja a uma opção preferencial por eles. Através desta opção, testemunha-se o estilo do amor de Deus, a sua providência, a sua misericórdia, e de algum modo continua-se a semear na história aqueles gérmenes do Reino de Deus que foram visíveis na vida terrena de Jesus, ao acolher a quantos recorriam a Ele para todas as necessidades espirituais e materiais” (NMI 49).
E acrescenta: “No nosso tempo, de facto, são muitas as necessidades que interpelam a sensibilidade cristã. O nosso mundo começa o novo milénio, carregado com as contradições dum crescimento económico, cultural e tecnológico que oferece a poucos afortunados grandes possibilidades e deixa milhões e milhões de pessoas não só à margem do progresso, mas a braços com condições de vida muito inferiores ao mínimo que é devido à dignidade humana. Como é possível que ainda haja, no nosso tempo, quem morra de fome, quem esteja condenado ao analfabetismo, quem viva privado dos cuidados médicos mais elementares, quem não tenha uma casa onde abrigar-se?
E o cenário da pobreza poderá ampliar-se indefinidamente, se às antigas pobrezas acrescentarmos as novas que frequentemente atingem mesmo os ambientes e categorias dotados de recursos económicos, mas sujeitos ao desespero da falta de sentido, à tentação da droga, à solidão na velhice ou na doença, à marginalização ou à discriminação social. O cristão, que se debruça sobre este cenário, deve aprender a fazer o seu ato de fé em Cristo, decifrando o apelo que Ele lança a partir deste mundo da pobreza. Trata-se de dar continuidade a uma tradição de caridade, que já teve inumeráveis manifestações nos dois milénios passados, mas que hoje requer, talvez, ainda maior capacidade inventiva. É hora duma nova “fantasia da caridade”, que se manifeste não só nem, sobretudo na eficácia dos socorros prestados, mas na capacidade de pensar e ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto de ajuda seja sentido, não como esmola humilhante, mas como partilha fraterna.
Por isso, devemos procurar que os pobres se sintam, em cada comunidade cristã, como “em sua casa”. Não seria este estilo, a maior e mais eficaz apresentação da boa nova do Reino? Sem esta forma de evangelização, realizada através da caridade e do testemunho da pobreza cristã, o anúncio do Evangelho — e este anúncio é a primeira caridade — corre o risco de não ser compreendido ou de afogar-se naquele mar de palavras que a atual sociedade da comunicação diariamente nos apresenta. “A caridade das obras garante uma força inequivocável à caridade das palavras” (NMI 50).
Nesse tempo de pandemia, mesmo com todas as limitações em razão do afastamento social, somos chamados a descobrir os testemunhos de fé: enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, médicos (as), pessoas que trabalham na limpeza dos hospitais, UPAs, clínicas e postos de saúde, pessoas que trabalham na cozinha desses ambientes e também em casa cuidando dos seus enfermos. Quantos exemplos bonitos de quem fica ausente de sua família para não levar contaminação para casa e para se dedicar ainda mais ao tratamento dos pacientes. Temos conhecimento de pessoas cristãs que trabalham nas UTIs e que toma consciência de que ali são um sinal de Deus para confortar aquelas pessoas.
Há também jovens que se oferecem para fazer compras e deixam as mercadorias à porta de pessoas idosas ou de outras pessoas que não podem sair para ir ao mercado ou à farmácia. Não podemos deixar de lembrar daqueles que, através de mensagens, de telefonemas e outros meios animam aqueles que estão sofrendo; partilham suas experiências de como a fé nos anima em momentos de tantos sofrimentos como esse.
Não são poucas as pessoas que vivenciam o amor-caridade através de reflexões que ajudam na compreensão desse momento; oferecendo roteiros celebrativos para as famílias, pastorais e movimentos, comunidades que se reúnem através das redes sociais e de outros meios.
Esse momento está ainda nos ajudando para que quebremos nossa indiferença e possamos olhar para aqueles que, infectados ou não pelo novo coronavírus, sofre por serem podres, por serem excluídos e estarem nas periferias sem a devida atenção das autoridades competentes.
Então, viver o amor-caridade nesse tempo é fazer a experiência de um olhar mais alargado, pois a pandemia nos faz ver não somente a situação atual de infectados e mortos (que atinge milhões de pessoas), mas a situação daqueles que já sofriam e sofrem pela desigualdade social, pela falta de condições para viver: falta de moradia digna, de saneamento básico, de alimentação, de trabalho com
Ao Espírito Santo que é o “Pai dos pobres” e é também a alma da Igreja evangelizadora pedimos incessantemente “que venha renovar, sacudir, impelir a Igreja numa decidida saída para fora de si mesma a fim de evangelizar todos os povos” (EG 261) e de ser sinal do amor-caridade. Para isso, precisamos estar atentos aos cenários da atualidade nos provocam repensar uma missão que abrange a realidade toda, para que seja sustentada:
a) por uma profunda reflexão teológica;
b) por uma conversão interior,
c) uma clareza de horizontes e
d) uma ousada ação evangelizadora.
Somos chamados a ser uma Igreja “em saída” (EG 20,24,37,46). Indo às periferias – ser testemunha da misericórdia, em especial junto aos pobres (MV 15). Vivendo, de fato, uma opção missionária capaz de transformar tudo (EG 27; cf. também 15, 33, 34, 35). Colocando tudo em chave Missionária (EG 15, 33, 34, 35).
Que o grito das periferias se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira da indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo (MV 15) e nos abra para a vivência do amor-caridade também nesse tempo de pandemia.
4. Outros pontos fundamentais:
a) Amados e chamados para o seguimento a Jesus Cristo. A iniciativa é sempre de Deus. Lembro como o profeta Isaías enfatizou essa perspectiva desde o seu chamado (Is 6,8 – “Eis-me aqui, envia-me”) até os cânticos do servo, como por exemplo Is 42,1-9: “Eis o meu servo, a quem sustento; o meu escolhido, em quem me comprazo).
Em Isaías e nos demais profetas, a experiência da iniciativa de Deus para a realização na vida missionária é sempre um destaque muito forte. A missão move e determina a vida deles. Essa perspectiva vemos também concretizada no Novo testamento através da vida de Maria, dos Apóstolos, de Paulo, Estevão e tantos outros.
São João vai nos dizer: “Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,10.19). Jesus define o sentido do chamado: “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e dardes frutos para que o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16). Para isso, contamos com a presença constante de Jesus Cristo e com a força do Espírito Santo: “Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, até os confins da terra” (At 1,8).
Vivemos numa sociedade urbanizada onde as instituições se enfraquecem. Essa sociedade está marcada fortemente pelo individualismo e pelo subjetivismo. A tendência individualista tem provocado nas pessoas uma relação utilitarista com os outros e também com a religião, gerando uma postura consumista em relação ao cristianismo e um subjetivismo desencarnado que atrapalha o despertar para a missionariedade (CNBB, Doc. 100 nº 23-27).
Por outro lado, as pessoas manifestam igualmente a emergência do eu que quer ser visto e valorizado, que quer sair do anonimato, da invisibilidade e chamar a atenção inclusive de formas dramáticas e violentas, para dizer ao mundo: “eu existo” (PMN p. 23). A atenção às pessoas é de fundamental importância.
Como estamos dando atenção às pessoas em meio aos desafios do mundo urbano? Que atenção damos para que elas descubram que são amadas por Deus e que, por isso, Ele as chama para o seguimento a Jesus Cristo nas várias modalidades que o próprio Espírito Santo aponta e com os dons que ele mesmo concede?
A missão nasce do coração do Pai. Aí está a fonte da missão que, pelo Filho Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, se expande, irradia, extravasa através da criação do mundo, do homem e da mulher e da presença de Jesus Cristo, como verbo encarnado. Deus Pai amou tanto o mundo que enviou o seu Filho amado não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. E todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jo 3,16-17). Jesus é enviado ao mundo e toda a sua vida é sinal do Amor de Deus. Amou os seus que estavam no mundo até o fim (cf. Jo 13,1), isto é, também ao entregar sua vida sofrendo tanto. É o Amor que guiou a vida de Jesus.
Durante 30 anos, Jesus viveu esse caminho do Amor na certeza do Amor do Pai que o sustentava, no anonimato de sua família e de seu lugar onde morava: Nazaré. Também no ambiente familiar e na vida do dia a dia de Nazaré, Jesus vivia a vida missionária que vai se tornar vida pública a partir do momento em que Jesus toma a decisão de não estar somente em Nazaré, mas com os discípulos que foram sendo chamado percorrer a Galiléia, a Judeia e a Samaria. Então, toda a vida de Jesus foi vida missionária, isto é, a vida missionária era o seu estilo de vida.
b) E é claro que, através da vida de cada pessoa, e das comunidades eclesiais, esse amor transborda. Então, somos chamados a serem colaboradores de Deus nessa missão de fazer transbordar o seu amor. Uns exemplos muito bonitos encontraram na parábola do bom samaritano.
c) Lc 10,25-37: Ele viu, sentiu compaixão e cuidou dele (do outro).
d) Missão como estado de vida, estilo de vida – A missão marca de tal modo a vida de cada pessoa batizada que não se pode restringir a determinadas atividades. Por isso, a missão não se resume a fazer ou assumir determinadas ações, algumas tarefas. Mas, onde você estiver você também é chamado a ser missionário (a), isto é, testemunha de Jesus Cristo que nos ama, nos liberta, nos salva. Você é chamado a ser missionário na família, no lugar onde mora, onde trabalha profissionalmente, por onde anda, onde está. Não se trata somente de fazer coisas para a missão, mas de ser missão, de ser missionário (a).
Igreja missionária – A Igreja nasce pelo Amor de Jesus missionário. Ela é por natureza missionária. Ela é constituída para ir até às pessoas, para anunciar a experiência do encontro com Jesus que morreu e ressuscitou; que está vivo, que nos acompanha. A vida de Jesus é o ponto de base para a vida da Igreja. Ele chama e forma seus discípulos e os envia: Ide pelo mundo todo e proclamai o Evangelho a toda a criatura (Mc 16, 15). “Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra” (cf. At 1,8).
O envio que Jesus faz tem uma atenção especial a quem está nas periferias, aos pobres.
Importância da casa – As Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil nos mostram como, na cultura e na realidade urbana, precisamos dar atenção à família aí onde reside e onde vive.
Mc 2,1-12 – Em uma casa, Jesus cura o paralítico: Jesus explica a Palavra e diz: levanta-te toma a tua cama e vai para tua casa.
Igreja doméstica missionária – A Igreja é povo de Deus formada pelas pessoas batizadas. Temos a Igreja no mundo inteiro (todos os continentes); temos a Igreja em um país (Brasil, por exemplo); temos a Igreja em uma diocese; temos as pessoas que formam a Igreja paroquial; a Igreja comunidade eclesial e a Igreja doméstica – a família. “Na família, como numa igreja doméstica, devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a vocação sagrada” (LG 11).
Não pode ser família fechada em si mesma, mas aberta para testemunhar a presença de Jesus Cristo. Temos exemplos muito bonitos de famílias ou de pessoas de famílias que são testemunhas fortes da fé e com seu exemplo ajudam outras famílias a conhecerem Jesus Cristo e manifestarem o seu amor por ele e o amor por outras pessoas, especialmente os que mais sofrem. Assim, a família cuida de si e de outros. Nesse tempo de pandemia, temos visto como há famílias que se dedicaram mais à oração e à meditação da Palavra de Deus, especialmente através da leitura orante.
Missão é voltar-se para o outro – A missão abre de tal modo a nossa vida que não podemos estar voltados para nós mesmos. Deus nos concede o seu Espírito a fim de que possamos quebrar esse egoísmo e sentir a alegria de manifestar solidariedade para com as outras pessoas, especialmente aquelas que vivem nas periferias.
Missão e o cuidado com os outros – Um exemplo bem apropriado encontramos no Evangelho de Lucas, 10,25-37: a parábola do bom samaritano. Ele viu, sentiu compaixão e cuidou dele. Há algo mais profundo que motiva aquele senhor a se aproximar e manifestar compaixão diante do homem caído à margem da estrada.
A imagem do bom samaritano é uma imagem típica do missionário(a) que não está voltado para si, mas encontra motivação e tempo para cuidar do outro e vê nessa oportunidade um sinal de Deus para vivenciar o amor que traz dentro de si.
Nesse tempo de pandemia, a orientação básica é o isolamento social, não estar próximo das pessoas. É evidente que procuramos observar as orientações que procedem das autoridades do campo da saúde. Mas, procuramos também ver o que nos é possível realizar como testemunhas do Evangelho diante de tantos sofrimentos enfrentados pelas pessoas.
A sensibilidade é de grande importância. Assim, assumimos o anúncio da vida missionária de Jesus e o anúncio se faz caridade, pois Jesus entregou sua vida por amor às pessoas. Ele é o bom Samaritano que cuida de nós e de todas as pessoas. Jesus manifestou todo carinho para com os pobres, os doentes, os publicanos e pecadores, os que viviam nas periferias. O seu amor foi e é tão grande que, além disso, ele mesmo quis se identificar com os pobres: O que fizestes a um destes mais pequenos, foi a mim que o fizestes (Mt 25,41). Ele se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza.
Ser missionário é estar aberto para cuidar da vida fragilizada de tantas pessoas para ajuda-las a ser discípulas missionárias de Jesus Cristo, o missionário de Deus.
Em tempos de pandemia: situação (isolamento social mesmo com algumas aberturas, infectados pelo novo coronavírus, pessoas internadas, pessoas em UTIs. Mais de 3.400 falecidos pelo novo Coronavirus. O desemprego ficou ainda mais agravado. Mesmo com ajudas que estão sendo disponibilizadas, há pessoas que não estão podendo pagar aluguel e comprar os alimentos básicos. São muitos os sofrimentos, as incertezas, mas também há Esperança.
Há vários esforços no sentido de preparar hospitais definitivos e provisórios para acolher os infectados pelo novo coronavírus.
Essa realidade nos mostra a gravidade da situação em que vivemos e que não podemos deixar de lutar para que as melhoras conseguidas no atendimento à saúde do povo não sejam retiradas ou deixadas de lado.
Agradecemos a Deus o testemunho de pessoas que estão diretamente trabalhando no acompanhamento a enfermos seja em sua casa, nos hospitais, nas UPAs, postos médicos, clínicas…
Agradecemos também as pessoas e famílias que continuam manifestando solidariedade através de várias doações e de vários tipos de campanha. Ainda, manifestamos gratidão por quem ajudou a família a vivenciar a vida de oração pela escuta da Palavra de Deus.
5. Romanos 12:
a) A experiência de Paulo, amado por Deus e chamado para o seguimento a Jesus Cristo como seu discípulo missionário, ilumina muito a nossa vida cristã.
b) Ele mesmo confessa: “Rendo graças aquele que me deu forças, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim, colocando-me a ser serviço, a mim que, antes, blasfemava, perseguia e agia com violência” (1Tm 1,12-13a). A experiência de Paulo, experiência de fé e de profunda gratuidade de Deus, fez Paulo assumir a entrega de sua vida, pois ele estava convencido de que Cristo havia entregue sua vida pelo perdão de todas as pessoas. “Ele me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20).
A vida de Jesus Cristo torna-se para Paulo o modelo a ser seguido, a referencia fundamental. Por isso, ele afirma: “Por causa dele, tudo deixei e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a Ele. (…) E assim que eu conheço Cristo, a força da sua Ressurreição e a comunhão cm seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte, para ver se consigo chegar até a Ressurreição dentre os mortos” (…) Eu mesmo fui alcançado por Cristo Jesus (F, 3,8-11.12)
c) É a partir dessa forte experiência de fé que o apóstolo vai recomendar aos romanos: Eu vos exorto irmãos pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação da mente, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito (Rm 12,1-2).
d) Aí, Paulo destaca o sentido de nossa vida: não estar voltado para si mesmo, mas para aquele que nos amou primeiro, nos chamou e nos enviou.
e) Mas, como vivenciar a vida missionária? Através dos dons que nos são concedidos pela graça de Deus. Assim, formaremos um só corpo, sendo membros uns dos outros, isto é, vivendo na comunhão, na fraternidade. O amor fraterno nos une. Somos chamados a servir sempre ao Senhor. Esse serviço ao Senhor não pode acontecer de qualquer forma. Não se trata de apenas cumprir tarefas. A missão acontece em primeiro lugar na ordem do ser e não do fazer. “Fiz tudo o que os formadores do seminário e o bispo me indicaram, então cumpri a missão”. De jeito nenhum. Nem sempre cumprir tarefas significa vivenciar a missão. A missão se expressa através da entrega da vida, como afirma a carta aos Romanos no capítulo 12,1-2.
f) A missão toca mais profundamente o nosso coração e toda a nossa vida, pois se trata de seguir Jesus Cristo também quando há dificuldades e desafios a serem enfrentados, assumidos e, sendo possível, superados. São Paulo tem muita razão quando especifica: A vivência da missão nos pede ser alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração.
g) Isso quer dizer que a Missão vai além de minha pessoa; pois ela nasce do coração do Pai e da confiança que Jesus Cristo tem em mim. É nele que encontro forças para seguir adiante (Tudo posso naquele que me fortalece Fl 4,13). Se o chamado vem de mim mesmo, assim como a missão, então, no momento em que estou fragilizado ou numa situação de fracasso, onde está a fonte que me faz recomeçar? A Esperança está naquele que nos ama, nos chama e envia.
h) A vida missionária enfrenta sofrimentos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me; pois quem quiser salvar sua vida, este a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim, este a salvará” (Lc 9,23-24). Daí, dizer S. Paulo: fortes na tribulação. Quantos exemplos de pessoas conhecemos (até em nossas famílias) que são fortes na tribulação! Seguir Jesus Cristo é segui-lo também em seus sofrimentos. O missionário não pode esperar recompensa ou exigir retribuição a partir de seus merecimentos. A gratuidade é atitude na qual a vida missionária está baseada.
i)Perseverantes na oração: A missão se realiza com os joelhos dos que rezam, com as mãos dos que ajudam e com os pés dos que partem (Leão XIII). Mas, eu costumo acrescentar: A missão também se realiza através dos olhos dos que veem, dos ouvidos dos que escutam, do coração dos que amam e da mente dos que refletem.
A oração nos torna confiantes na graça de Deus, pois estamos convencidos de que a missão vem de Deus, a obra é de Deus e nós somos seus colaboradores (1Cor 3,5-7). Não somos os donos da missão.
j) Assim, Paulo ainda nos indica:
• A Solidariedade para os que estão em necessidades (vencer a indiferença); hospitalidade, por exemplo.
• Diante da perseguição, abençoar
• Manifestar alegria com os que se alegram e sentimento de compaixão com os que choram.
• Não pagar o mal com o mal, mas fazer o bem. Viver em paz com todos, na medida do possível. Não querer fazer justiça a partir de si mesmo. “Se teu inimigo estiver com forme, dá-lhe de comer; se estiver com sede, dá-lhe de beber. Não deixes te vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.
• Bom entendimento para com os outros, sem nenhuma pretensão; não considerar-se sábio aos próprios olhos. Ser humilde (acomodai-vos às coisas humilde. Ser o bom samaritano – difundir o amor de Deus, transbordar e irradiar o dinamismo do amor.
Dom Esmeraldo Farias
Bispo Auxiliar de São Luiz Maranhão.