30/05 Virtudes: Humildade e Mansidão
Compartilhar

“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. (Mt 11,29 )
São virtudes gêmeas: virtudes que nos curam.
A humildade nada tem de falsa modéstia, nem se presta a ser refúgio de nosso medo de perder ou de assumir responsabilidades. A mansidão nada tem de ingenuidade ou falta de firmeza e ousadia para profetizar a novidade de Deus.
HUMILDADE
Humildade- húmus. Chão. Pés no chão. Realidade como ela é. Folhas caídas, galhos quebrados: o húmus orgânico que faz crescer e dá vigor. A humildade é a verdade. Ser humilde é ser verdadeiro.
Que boa coisa é a humildade! Vivificante. É um saber firme sobre nossos dons, limites e nossas imperfeições e fraquejamentos. Consciência real e afetiva de nossa incompletude. Quebra orgulho e vaidade. Faz-nos acolhedores de nossa própria condição humana, este misto de esterco e estrela. Grandeza e miséria. Luzes e sombras.
A humildade nos liberta do nosso personagem (padre/religioso) e da moral desta cultura da aparência de quem se julga saber, mandar, exigir admiração e aplauso. De quem manipula para chegar lá e descarta quem poderia atravessar a mesma estrada.
A humildade livra-nos de apresentar uma perfeição ou de por ela nos obcecar. Humildes, vivemos o direito de ser crescente, aprendiz, ensaiante do melhor de nos mesmos. E da melhor ajuda, do melhor cuidado no trato pastoral com o povo de Deus. Se humildes, resistimos à cobrança fantasiosa (dos outros e de nos mesmos) de ser sucesso a qualquer custo preço.
O ideal da vida consagrada nos impulsiona. A humildade nos liberta da ilusão de sermos “melhor que os outros”, nos salva e cura do auto-engano enquanto imagem aureolada de nós próprios, seguros nos disfarces de que não há nada de mal conosco e muito menos de errado. Coisas da síndrome do fermento dos fariseus e herodianos, incapazes de confissão: – pratiquei o que é mau a teus olhos. Tem piedade de mim, sou pecador.
Se a humildade nos liberta de fazer pose, ela igualmente nos purifica: pondera meus medos e razões e não deixa escondida minha guerra de poder e minhas ambições. Purificando-me, me cura do ressentimento por considerar-me inferior, preterido, sem chances maiores na vida, sem os devidos reconhecimentos.
A humildade é a força divina em nós, ajuda-nos coma diferença que a vida tem conosco. E nós com ela. Corta pela raiz, o sempre emergente complexo de divindade. Mas ao mesmo tempo não nos ceder ao medo face aos sonhos, ao ideal, à aventura de ser feliz por assumir responsabilidades, desempenhar papeis significativos, ocupar postos de coordenação.
A humildade não nos deixa cegos ou medrosos ante as promessas de vida que nossa história nos propicia e contém. A humildade torna-nos cultivadores de nossas habilidades e capacidades. Corta também pela raiz a maneira de tantas pessoas inventarem desculpas para não ousar, crer e apostar nas boas lutas que invocam. A humildade não pactua com os disfarces dos que, receosos, só enxergam obstáculos, adubam as limitações. Encolhidos ficam humilhados. Jamais serão humildes, por fugirem da própria autoridade. (Mt 7, 28)
MANSIDÃO
“Felizes os mansos porque possuirão a terra” (Mt 5, 4)
É a irmã gêmea da humildade. Como entendê-la?
Entendemos a mansidão com o saber cuidar, sem exclusões. Cuidar de nós e dos outros. Solicitude por nós mesmos e pelos outros. Sem animosidade.
Mansos nos mostramos no reconhecimento agradecido de quem sorri de contradições e provocações, não fazendo tempestade em copo d’água. É que a mansidão nos desvincula da ânsia de controlar e dirigir todas as circunstâncias da vida.
A mansidão confere autenticidade ao coração e à mente, faz-nos criadores de paz, misericordiosos. Da mansidão vem a serenidade e o estar disposto a dobrar-se: dobrar o joelho diante de Deus, adorando e buscando sua vontade; ajoelhar-se ante o irmão, no lava pés frequentes, na disponibilidade do serviço fraterno de crer, apostar e fazer vir à tona a melhor parte do outro.
A mansidão, irmã gêmea da humildade, é a força oposta a violência, à vingança: não humilha o outro, não o desconsidera, não o desqualifica. Muito menos apaga a mecha ainda a fumegar. É preciosidade de quem conhece e pratica a gentileza e a delicadeza.
JESUS HUMILDE E MANSO
É só conferir a imagem de ser humano que a pessoa de Jesus revela por seu viver. Que experiência realística da existência. E ao mesmo tempo, que testemunho de uma determinação e da existência só possíveis à partir de uma integração interior.
Recordemos os textos de chamado “sermão da montanha”. Seleciono e aponto três: não vos preocupeis! Não tenhais medo! batei! Imperativos de vida. Jesus humilde e manso: saudável pessoa, realista não se preocupa por que confia, não tem medo da vida, pois está respectivamente aberto e sabe bater à porta.
Jesus, humilde e manso. Sem animosidade. Não espalha sal nas feridas. Não vai ao encontro das pessoas com afrontas. Suas atitudes revelam o amor de lava-pés, ausência de busca de prestígio pessoal, abertura a todos, perdão que aposta no outro e no futuro.
Dota-nos, Senhor Jesus,
De humanidade e mansidão!
Pe. Dalton, CSsR

VEJA TAMBÉM