27/10 A MONTANHA
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“Nosso interior se purifica e se restaura com o silêncio dos cumes” (Unamuno)
Subir uma Montanha exige força de vontade e esquecer-se da comodidade, droga atual que tanto debilita a colaboração, solidariedade, compreensão e entrega. Subir à Montanha é ir descobrindo, pouco a pouco, “como Deus encheu este mundo de coisas belas e maravilhosas para que delas possamos desfrutar” (Baden Powell)
A Montanha fala sempre de realidade, de frutos, de essências, de bem-estar, de brindar alegria para fazer felizes àqueles que a visitam. Por isso, na Montanha, nunca se conjugam os verbos: escravizar, desprezar, irritar, estafar, odiar, tiranizar, encadear, encarcerar, impôr, fazer calar, humilhar, não aceitar nem compartilhar…
A Montanha é o grande paraíso. Nela se encontra uma gama variadíssima de aves, répteis, vegetais, minerais e águas que estão, noite e dia, interpretando as melhores sinfonias da Criação. Mas na escuta de tais sinfonias há compassos de silêncio que despertam a reflexão, o louvor, a oração…
Na Montanha e pela Montanha desperta-se o mundo de fantasias, imaginação, poesia, criatividade, simbolização e transcendência, que nos conduzirá à comunicação pessoal e ao diálogo com o Senhor.
Nos caminhos das Montanhas, sentimo-nos livres de horários fixos, modas, propagandas, violências, delinquências,incompreensões e intolerâncias, e aprendemos o serviço e a entrega incondicional aos outros.
Todos os grandes personagens bíblicos fizeram uma experiência de Montanha. Jesus Cristo, homem dos “vales” (luta, compromisso, serviço…) reservou momentos de Montanha (comunhão com o Pai). Ali Ele buscava sentido e força para a sua missão.
Nossa vida precisa alternar momentos de Montanha (plenitude, silêncio, interioridade…); isso possibilita uma prática eficaz, um compromisso duradouro, uma presença transformadora no vale.
Subir a Montanha é perceber se estamos caminhando na direção certa, tomar distância do ritmo diário, descobrir novos horizontes…
A Montanha nos faz perceber, a partir do alto, certos aspectos do vale que passam despercebidos.
A Montanha é o lugar do encontro íntimo com o Senhor e de encontro com o melhor de nós mesmos, ou, a nossa identidade. No silêncio da Montanha podemos perceber quem somos nós, indo além de nossa aparência e captando aquilo que é essencial em nós, que é mais rico…
Os momentos de Montanha são momentos de “transfiguração”, revelação de nosso ser essencial, apontando para uma direção, um sentido da vida, plenificando o nosso agir no vale, iluminando e dando sentido a tudo que fazemos.
A vida é saber integrar a vida no vale e momentos na Montanha, sem radicalizar um dos polos. Se permanecemos só no vale corremos o risco de nos desfigurarmos (ativismo, rotina, angústias, trabalho sem sentido; mundo fechado, sem horizontes, sem direção…) Se permanecemos só na Montanha há perigo de fuga, alienação, falta de compromisso, medo da luta, dos desafios…
O vale é o lugar da luta, do trabalho, da construção… mas iluminado pela experiência da Montanha. Todo gesto no vale tem plenitude, tem ressonâncias, a partir da Montanha.
A Montanha também nos revela que Deus está “trabalhando” no vale. A Montanha nos devolve ao vale com outra visão, com outro dinamismo…

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