10/10 A OUSADIA DA ESCUTA
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“É melhor pôr o coração na oração sem encontrar palavras do que encontrar palavras sem pôr nelas o coração” (Gandhi)

Se a “vocação” é antes de tudo chamado de Deus, a primeira atitude só pode ser descrita como escuta. Aquele que procura reconhecer sua vocação, só pode dizer como Samuel: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (ISm 3,10).
Um discernimento em clima de escuta da Palavra de Deus, de comunicação de vida profunda, de oração intensa e constante, de diálogo sincero com Deus, é o clima para a resposta.
Vivemos num mundo marcado por ruídos externos e internos. Carregamos o ruído dentro de nós: em nosso corpo (tensões, pressas, nervosismos…), em nossa mente (“falatório” crônico, confusão mental, perturbação…), em nossa afetividade (sentimentos negativos, “feridas”, tristeza, angústia…)
Também a nossa oração segue o ritmo dos ruídos… passa a ser não uma oração de escuta, mas um “falatório interior”, onde Deus não tem como manifestar sua voz.

Deus não faz ruído! É preciso um coração atento, em silêncio, para ouví-lo. Urge “fazer deserto” no coração: imprescindível para se optar, para se decidir. Fazer deserto é entrar no coração, ficar aí e escutar. Porque o coração não nos engana, uma vez que o próprio Deus está no fundo de nosso ser. E no coração se exige silêncio, disponibilidade, contemplação. Este é o caminho sério para se ver, para se descobrir o plano de Deus na vida.
Acontece, normalmente, que o coração se vê invadido por um monólogo interior carregado de auto-reprovações, censura, exigências, críticas que se faz em função da auto-imagem, acusações… A oração se converte em algo incômodo e hostil; ela passa a ser o lugar do “deveria”, “teria”… Desta maneira, a pessoa não se situa corretamente na presença de Deus e nem se relaciona sadiamente consigo mesma.

Daí a necessidade, primeiramente, de silenciar o ruído-nocivo, o ruído obstáculo… através da “escuta amorosa”, ou seja, uma atitude positivamente amorosa para consigo mesmo, sentir-se valioso aos olhos de Deus, sem julgar-se, avaliar-se…
Esta “escuta amorosa” é a base para uma sadia oração e se traduz numa autocompreensão carinhosa, cálida, criativa… Só assim, sem defesas e juízos, brotará sua palavra, seu silêncio, sua escuta… Entrar em contato amoroso consigo mesmo na oração é deixar transparecer a ação de Deus criador, libertador, vendo a si mesmo como fruto da criação amorosa de Deus.
A “escuta amorosa” de si mesmo conduz à “escuta comprometida” do Deus da Vida.
Precisamos do silêncio. Precisamos viver no silêncio e a partir do silêncio: silêncio pleno, transparente, transformante, comprometedor, que nos revela Deus e “toca” o mistério de nossa vida…

Se queremos continuar aprofundando no descobrimento de toda a riqueza de nosso ser e da presença do Senhor no nosso coração, temos que descobrir o silêncio.
Só na quietude, silêncio e harmonia do seu corpo, da sua mente e do seu coração chegará a aflorar sua autêntica e verdadeira realidade, chegará a refletir a imagem de Deus que você é.
Por isso o silêncio é vazio e plenitude, ser e transparência, obscuridade e mistério.
O silêncio e a escuta interior dispõem a pessoa para a resposta. Mais ainda: essa atitude harmoniosa já é resposta, porque ela faz Deus presente em seu coração.
A vida não muda; faz-se outra, imensa, forte e silenciosa; próxima e amorosa…
Chegou a hora em que a vida cala e o silêncio fala.

“Deus não fala ao homem enquanto este não consiga estabelecer o silêncio entro de si mesmo”.

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