24/06 Catequese – 1. Introdução à Carta aos Gálatas
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Catequese – 1. Introdução à Carta aos Gálatas
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Depois do longo itinerário dedicado à oração, hoje iniciamos um novo ciclo de catequeses.
Espero que com o itinerário da oração, tenhamos aprendido a rezar um pouco melhor, a orar um
pouco mais. Hoje desejo refletir sobre alguns temas que o apóstolo Paulo propõe na sua Carta
aos Gálatas. É uma Carta muito importante, diria até decisiva, não só para conhecer melhor o
Apóstolo, mas sobretudo para considerar alguns dos temas que ele aborda em profundidade,
mostrando a beleza do Evangelho. Nesta Carta, Paulo faz muitas referências biográficas que nos
permitem conhecer a sua conversão e a decisão de dedicar a vida ao serviço de Jesus Cristo.
Também trata de algumas temáticas muito importantes para a fé, tais como a liberdade, a graça e
o modo de vida cristão, que são extremamente relevantes pois tocam muitos aspetos da vida da
Igreja de hoje. Esta é uma Carta muito atual. Parece ter sido escrita para os nossos tempos.
A primeira caraterística que emerge desta Carta é a grande obra de evangelização realizada pelo
Apóstolo, que visitou as comunidades da Galácia pelo menos duas vezes durante as suas
viagens missionárias. Paulo dirige-se aos cristãos daquele território. Não sabemos exatamente a
que área geográfica se refere, nem podemos afirmar com certeza a data em que escreveu esta
Carta. Sabemos que os gálatas eram uma antiga população celta que, através de muitas
vicissitudes, se estabeleceu naquela extensa região da Anatólia que tinha a sua capital na cidade
de Ancira, hoje Ancara, capital da Turquia. Paulo relata apenas que, por causa de uma doença,
se viu obrigado a permanecer naquela região (cf. Gl 4, 13). Ao contrário, São Lucas, nos Atos dos
Apóstolos, encontra uma motivação mais espiritual. Diz que «atravessando em seguida a Frígia e
a província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra de Deus na
(província da) Ásia» (16, 6). Os dois factos não são contraditórios: pelo contrário, indicam que o
caminho da evangelização nem sempre depende da nossa vontade e dos nossos projetos, mas
requer a disponibilidade a deixar-nos plasmar e seguir outros caminhos que não estavam
previstos. Entre vós está presente uma família que me saudou: contou-me que deve aprender o
letão, e não sei quais outras línguas, pois vai como missionária para aquelas terras. O Espírito
conduz também hoje muitos missionários que deixam a própria pátria e vão para outra terra em
missão. O que verificamos, contudo, é que na sua incansável obra de evangelização o Apóstolo
conseguiu fundar várias pequenas comunidades, espalhadas por toda a região da Galácia. Paulo,
quando chegava a uma cidade, a uma região, não construía imediatamente uma grande catedral,
não. Estabelecia as pequenas comunidades que são o fermento da nossa cultura cristã de hoje.
Começava com as pequenas comunidades. E estas pequenas comunidades cresciam, cresciam
e iam em frente. Também hoje este método pastoral é realizado em cada região missionária.
Recebi uma carta na semana passada, de um missionário da Papua-Nova Guiné; disse-me que
está a pregar o Evangelho na selva, às pessoas que não sabem nem sequer quem foi Jesus
Cristo. Que bonito! Dá-se início a pequenas comunidades. Também hoje o método é aquele
evangelizador da primeira evangelização.
O que queremos notar é a preocupação pastoral de Paulo que é toda fogo. Ele, após a fundação
destas Igrejas, tomou consciência de um grande perigo – o pastor é como o pai ou a mãe que
imediatamente se dá conta dos perigos que os filhos correm – para o seu crescimento na fé.
Crescem e chegam os perigos. Como dizia alguém: “Chegam os abutres a fazer estragos na
comunidade”. De facto, alguns cristãos vindos do judaísmo tinham-se infiltrado nestas igrejas e
astutamente começaram a semear teorias contrárias aos ensinamentos do Apóstolo, chegando
ao ponto de o difamar. Começam com a doutrina “esta sim, esta não”, e depois difamam o
Apóstolo. É o caminho de sempre: tirar a autoridade ao Apóstolo. Como podemos ver, é uma
prática antiga apresentar-se em certas ocasiões como os únicos possuidores da verdade – os
puros – e procurar menosprezar o trabalho dos outros, até com a calúnia. Estes adversários de
Paulo argumentaram que também os gentios tinham de se submeter à circuncisão e viver de
acordo com as regras da lei mosaica. Voltam atrás às observâncias de antes, o que tinha sido
superado pelo Evangelho. Portanto, os Gálatas teriam de renunciar à sua identidade cultural a fim
de se submeterem às normas, prescrições e costumes típicos dos judeus. E não só. Esses
opositores argumentaram que Paulo não era um verdadeiro apóstolo e, por conseguinte, não
tinha autoridade para pregar o Evangelho. Muitas vezes vemos isto. Pensemos em alguma
comunidade cristã ou diocese: começam as histórias e depois acabam por desacreditar o pároco,
o bispo. É precisamente o caminho do maligno, das pessoas que dividem, que não sabem
construir. E nesta Carta aos Gálatas vemos este procedimento.
Os Gálatas encontravam-se numa situação de crise. O que deviam fazer? Ouvir e seguir o que
Paulo lhes tinha pregado, ou ouvir os novos pregadores que o acusavam? É fácil imaginar o
estado de incerteza que animava os seus corações. Para eles, que conheceram Jesus e
acreditaram na obra de salvação realizada através da sua morte e ressurreição, foi
verdadeiramente o início de uma nova vida, uma vida de liberdade. Tinham enveredado por um
caminho que lhes permitia finalmente ser livres, não obstante a sua história estivesse imbuída de
muitas formas de escravidão violenta, nomeadamente a que os sujeitou ao imperador de Roma.
Portanto, perante as críticas dos novos pregadores, sentiam-se desorientados e incertos sobre
como se comportar: “Mas quem tem razão? Este Paulo, ou aquelas pessoas que agora estão a
ensinar outras coisas? A quem devo ouvir? Em suma, os riscos eram realmente elevados!
Esta condição não está longe da experiência que muitos cristãos vivem na nossa época. Com
efeito, ainda hoje, não faltam pregadores que, especialmente através dos novos meios de
comunicação, podem perturbar as comunidades. Apresentam-se não para anunciar o Evangelho
de Deus que ama o homem em Jesus Crucificado e Ressuscitado, mas para reiterar com
insistência, como verdadeiros “guardiães da verdade” – assim se consideram – qual é a melhor
maneira de ser cristão. Afirmam energicamente que o verdadeiro cristianismo é aquele ao qual
estão ligados, frequentemente identificado com certas formas do passado, e que a solução para
as crises de hoje é voltar atrás para não perder a genuinidade da fé. Também hoje, como outrora,
existe a tentação de se fechar em algumas certezas adquiridas em tradições passadas. Mas
como podemos reconhecer esta gente? Por exemplo, uma das caraterísticas do modo de
proceder é a rigidez. Face à pregação do Evangelho que nos torna livres, jubilosos, eles são
rígidos. Sempre a rigidez: deve-se fazer isto, deve-se fazer aquilo… A rigidez é própria dessas
pessoas. Seguindo o ensino do Apóstolo Paulo na Carta aos Gálatas ajudar-nos-á a compreender
qual caminho seguir. O caminho que o Apóstolo indicou é aquele libertador e sempre novo de
Jesus Crucificado e Ressuscitado; é o caminho do anúncio, que se realiza através da humildade
e da fraternidade, os novos pregadores não sabem o que é humildade nem fraternidade; é o
caminho da confiança mansa e obediente, os novos pregadores não conhecem a mansidão nem
a obediência. E este caminho manso e obediente vai em frente, na certeza de que o Espírito
Santo age em cada época da Igreja. Em última instância, a fé no Espírito Santo presente na
Igreja, leva-nos em frente e salvar-nos-á.
Saudações:
Queridos irmãos e irmãs de língua portuguesa: lembrem-se sempre que o anúncio do Evangelho
se faz com humildade e fraternidade, não impondo, mas indicando o caminho a seguir. Desça
sobre todos vós a benção de Deus!
Resumo da catequese do Santo Padre:
Hoje começamos um novo ciclo de catequeses, desta vez sobre a Carta de São Paulo aos
Gálatas. Nesta carta, o Apóstolo faz diversas alusões biográficas que nos permitem conhecer a
sua conversão e a decisão de colocar a sua vida a serviço de Jesus Cristo. Ele trata também
temas importantes para a fé e extremamente atuais, como a liberdade, a graça e o viver cristão.
O primeiro ponto que emerge da carta é a grande obra evangelizadora realizada pelo Apóstolo
naquela região, onde fundou diversas pequenas comunidades cristãs. Igualmente digno de nota é
a preocupação pastoral de Paulo que percebe o grande perigo que representava a influência de
alguns cristãos provenientes do judaísmo para o crescimento na fé destas comunidades. De fato,
estes adversários de Paulo sustentavam que os pagãos deveriam submeter-se à circuncisão e à
lei mosaica e que ele não era um verdadeiro apóstolo e, portanto, não possuía autoridade para
pregar o Evangelho. Não faltam, também em nossos dias, pregadores que se proclamem como
detentores da verdade, afirmando que o verdadeiro cristianismo é o que praticam, muitas vezes
identificado com formas do passado. Nos fará bem compreender que o caminho indicado pelo
Apóstolo Paulo na carta aos Gálatas é o da liberdade, do anúncio realizado através da humildade
e da fraternidade.

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