23/01 CF – FRATERNIDADE E DIÁLOGO. CRISTO É A NOSSA PAZ: DO QUE ERA DIVIDIDO, FEZ-SE UMA UNIDADE (EF 2, 14A).
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Somos convidados a não apenas conhecer, mas, principalmente, a acolher e assumir a proposta da CFE 2021, como um sinal de que, na presença e na força do Espírito, diante de realidades complexas e desafiadoras, sobretudo nesse tempo de pandemia(s), desejamos buscarmos novos e criativos para a vida de nossas comunidades de fé de nosso mundo tão ferido!
Só o Tema da CFE 2021:“Fraternidade e Diálogo” e o Lema: “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez-se uma unidade” (Ef 2, 14a), unidos ao Cartaz que expressa a comunhão dos diversos dons e carismas que se movimentam por meio de uma ciranda onde não há primeiro nem último, onde todos se unem e, entre sinfonias variadas, buscam o mesmo compasso, a mesma sintonia, formando comunhão em movimento, já nos inspiram, nos enchem de entusiasmo, compromisso e esperança!
Trazemos a certeza de que essa CFE é um presente de Deus para nós! É claro que houve muitos esforços, muitos entendimentos de nossa parte para que, por mais uma vez, realizássemos uma CF Ecumênica. Mas temos a certeza de que, como no relato de Emaús, a iniciativa partiu de Jesus para entrar no caminho dos discípulos, essa CFE é uma iniciativa também Dele. Jesus mesmo toma a iniciativa e entra no nosso caminho para abrir os nossos olhos, para nos ensinar o diálogo como compromisso de amor e nos animar na missão!
A escolha da passagem bíblica dos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35)como pano de fundo de toda construção e dinâmica do Texto Base da CFE é muito significativa! Oferece-nos um novo impulso à caminhada ecumênica em nossas comunidades. Cremos vivamente que o ecumenismo é uma contribuição para a unidade de toda família humana! O “processo” de Emaús, escolhido para a construção do Texto Base: 1. rumo errado: projeto de vida desviado2. voltar-se a Jesus Cristo: ouvir sua Palavra, escutar, dialogar, partilhar3. envolver-se na missão, com palavras e ações concretas – visa abrir os nossos olhos ou ser como um colírio para nos tirar de qualquer desvio ou desânimo, de qualquer tentação de fechamento, de amargura, de busca de segurança dentro de nossos muros, de distanciamentos, do perigo latente do autocentramento. É um texto que nos traz uma dinâmica que nos reencantar, libertando-nos da cegueira da frustração, derrota ou cansaço, e devolvendo-nos de novo à dinâmica do Espírito de Deus que gera diversidade reconciliada, alegria, amor e liberdade.
Discípulos de Emaús. no caminho, a experiência do diálogo e da fraternidade.
Somente o diálogo permite que se vá fundo nas questões da vida, com suas sombras e luzes. O texto dos discípulos de Emaús é um texto de referência para a vida cristã. Faz-nos mergulhar na pedagogia do diálogo que gera esperanças e constrói pontes, sempre no caminho, pois o abrir-se ao outro tem algo de artesanal! A vida em fraternidade é uma construção artesanal… algo minucioso, miúdo, sem fim. O método de Deus é o da proximidade que tem sede de diálogo com os seus, a partir da realidade ouvida, iluminada e interpretada luz da sua Palavra e da partilha da vida e do pão! O método de Deus precisa ser o nosso!
O relato bíblico de Emaús é um ensinamento sobre a prática do diálogo: remédio para nossos tempos tão marcados por rivalidades, competições e polarizações. Como se diz na introdução do Texto base, é “um convite à conversão ao diálogo e ao compromisso de amor”. Conversão que devemos todos (também nós!) buscá-la e anunciá-la. Papa Francisco na sua última Carta encíclica Fratelli Tutti afirma que “o diálogo entre pessoas e diferentes comunidades cristãs e tradições religiosas não se faz apenas por diplomacia, amabilidade ou tolerância. O objetivo do diálogo é estabelecer amizade, paz, harmonia, partilhar valores e experiências morais e espirituais em espírito de verdade e amor” (271), sempre num serviço, lento, mas perseverante, de testemunhara Fraternidade que desconstrói muros e ergue pontes.
O diálogo precisa ser a chave de uma nova cultura – Uma nova cultura não como um círculo fechado, mas como a imagem do poliedro (EG 236; FT 145): nem pirâmide, nem esfera, mas multiplicidade facetada que reverbera de forma diferente e originalmente a mesma luz. Nessa nova cultura, ninguém é inútil, supérfluo. Cada um é respeitado no seu valor. Minha visão é completada pela visão do outro. Isso só pode ser possível numa atitude autêntica de diálogo. O importante é que o diálogo seja transformado em um estilo de vida! Diálogo como estilo, à exemplo de Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, Homem do Diálogo, tão vivamente expresso no relato dos discípulos de Emaús e em tantos outros relatos bíblicos.
“Redescobrindo Cristo no caminho: a paz do Ressuscitado que nos une “Chamou-me atenção esse subtítulo encontrado na introdução do Texto base da CFE.
Redescobrindo…Precisamos redescobrir Jesus Cristo! De fato, a crise que levou os discípulos de Emaús a abandonarem a Comunidade e a Missão estava principalmente na imagem de Messias que eles ainda tinham… Provocados por Jesus, os discípulos começam a falar. E nesta fala revelam o problema: “nós esperávamos…” O que eles esperavam? No fundo, esperavam que as coisas de Deus acontecessem assim como estavam na cabeça deles. A crise estava na imagem de Messias que tinham construído em suas vidas. Aquela cruz erguida no Calvário era o sinal mais eloquente de uma derrota que não tinham previsto. A paixão e a morte de cruz de Jesus revelavam um Messias diferente daquilo que eles poderiam ter imaginado: O Messias Servo – servidor! Esperavam um Messias forte e vitorioso, restaurador de um reino político independente, só para Israel. Há ainda hoje o perigo da imagem de um Deus violento, exclusivista…um Deus feito à nossa vontade. O caminhar com CFE, nos passos dos discípulos de Emaús, é uma possibilidade e um convite concreto de redescoberta de Jesus Cristo e de sua vontade. Apesar de se falar e de se ouvir tanto o nome de Jesus, ele ainda é um ilustre desconhecido para muita gente! E como ainda se deturpa a sua imagem! Em nome dele se prega divisão, distâncias, exclusões, intolerâncias e morte… se constroem muros.
Redescobrir Cristo no caminho, “buscar a Deus com o coração sincero, desde que não o ofusquemos com nossos interesses ideológicos ou instrumentais, ajuda a reconhecer-nos como companheiros de estrada, verdadeiramente irmãos” (FT 274).
O Texto Base da CFE 2021 segue os passos dos caminhantes de Emaús com Jesus! No fundo, são 3 “paradas” que compõem o caminho de Emaús. Uma 4ª parada, acrescida no Texto Base, coroa todo processo – é o cume; é a celebração da vida – celebração da caminhada!
Primeiro: A conversa: “conversavam sobre todos os acontecimentos…” relacionados à missão, condenação e à morte de Jesus.
Primeira parada: Trocando impressões sobre os acontecimentos mais recentes.
É o VER … o olhara realidade… Não desprezar a história – isso é uma tentação, um perigo, hoje: perder a memória! Ignorar a história nos torna vazios, sem conteúdo, desenraizados, fáceis de manipulação. Na Carta encíclica Fratelli Tutti há alguns números dedicados a esse perigo que Papa Francisco chama de “o fim da consciência histórica” (Capítulo I).Portanto, OLHOS e OUVIDOS abertos, atentos à vida real, com tudo – luzes e sombras; pontes e muros; avanços e retrocessos; vitórias e lamentos (“nós esperávamos, mas…”“não deu em nada…” “está difícil…”). É muito importante não esconder nada; ao contrário, não ter medo de mostrar e enfrentar as feridas para que possam ser curadas, sanadas.
A primeira atitude de Jesus é de APROXIMAÇÃO; Jesus se incorpora a nossa viagem; caminha ao lado; ESCUTA a conversa, e num segundo momento, pergunta.
Ovalor da ESCUTA: escuta de si, escuta da realidade, escuta do outro. O diálogo como escuta. Saber ouvir … partir da escuta atenta, sincera…não dos nossos julgamentos ou pré-conceitos. O diálogo (escuta e fala: mão dupla) que impede fechamentos…rancores…desânimos…morte. Diálogo que abre caminhos, possibilidades, esperança.
Importante é não esquecer que Jesus peregrina conosco. É o Espírito de Deus que nos guia; Ele é o real protagonista. Deixar que Ele nos mova e nos conduza. OUVÍ-LO! Responder à escuta com escuta!
Segundo- Jesus agora responde: Ele nos oferece a sua Palavra!
Segunda parada: “Carta para pessoas de boa vontade em um mundo cheio de barreiras e divisões” (Efésios – Palavra de Deus – texto inspirador da CFE)
Julgar (iluminar) – é o momento de voltar-se à Palavra; dar espaço à Palavra de Deus. Deixa-a falar! Não pôr obstáculos ou ruídos que impeçam ouvi-la bem! Iluminar a realidade com a Palavra de Deus. É ela que faz arder o coração!
Jesus não nos deixa sozinhos! – Papa Francisco, março 2020, na oração Urbi et Orbi, Praça São Pedro: Mc 4, 35 (tempestade acalmada): “Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento”. “Por que são tão medrosos?” Estou aqui! Abraçar o Senhor para abraçar a esperança. A força da fé alimentada pela Palavra, que arde o coração, liberta do medo e dá esperança!
O convite é acolhê-lo, reconhecê-lo e anunciá-lo: “Os dois insistiam com ele…Fica conosco…” – Precisa convidá-lo. Acolhê-lo. Colocá-lo ao centro! “Muitos muros têm sido derrubados a partir da fé em Jesus Cristo e pontes de diálogo e aproximação têm sido construídas” (Texto base 142).
Só reconheceremos o verdadeiro Jesus se abrirmos nossas casas e partilharmos o que somos e temos! Se eles não tivessem convidado o desconhecido a entrar na casa deles? Nada teria mudado na vida deles! A força e a graça da acolhida, das portas abertas, das janelas abertas… pois é daí que se entra o Espírito! Naquele momento em que se partilhou a casa, a vida, a oração em volta do pão, os olhos se abriram. É a partilha que abre os olhos! A vida nova, trazida por Jesus Ressuscitado, vem da partilha da vida! É a prática que abre os olhos…. a leitura, a interpretação, o falar e ouvir…. esquentam…, mas é a prática que abre os olhos de verdade! A Bíblia não abre os olhos. Faz arder o coração. O que faz enxergar mesmo é a fração do pão, o gesto da hospitalidade, da gentileza, da oração em comum, da partilha do pão, da solidariedade.
Por fim…A retomada do Caminho
Terceira Parada: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”(Ef 2, 14a)
AGIR: Decisão de voltar à Comunidade, à missão – voltam diferentes (do medo à coragem; da tristeza à alegria; do fechamento à missão).
Nós somos os discípulos de Emaús: Jesus anda conosco sem a gente se dar conta! O texto no final diz que Jesus após abrir os olhos dos discípulos, na partilha do pão, desapareceu da frente deles. Para onde foi Jesus? podemos nos perguntar… Foi para dentro dos discípulos. Eles ressuscitaram! Recuperaram a fé, a bondade, a esperança, o sentido da vida, a coragem, a alegria, a missão.
Na missão, como discípulos e discípulas do Mestre, precisamos mais e mais fazer a experiência de caminhar juntos- não só falar ou desejar- mas verdadeiramente caminhar juntos (com identidades definidas e abertas ao outro). Se falamos tanto de encontros, unidade e pontes, não somos ingênuos: há, hoje, também tantos sinais fortes de divisão, há ainda incompreensões sobre o que é ecumenismo, diálogo inter-religioso; infelizmente, enxergamos até mesmo retrocessos em nossas Igrejas sobre essas questões. Nosso caminho é ainda longo… Nossa missão comum, na fonte do olhar amoroso de Deus que é o mesmo, sem distinção, para cada pessoa, seja qual for a religião, éo de testemunhar e construir Fraternidade. É redescobrir a GENTILEZA (tema SOUC 2020) nas relações. Como pessoas de fé podemos e precisamos oferecer uma preciosa contribuição para a construção da paz e fraternidade no mundo.
Sem esquecer: CELEBRAR: Fonte e ápice
A CFE é um dos modos de viver a espiritualidade quaresmal (““ ““ Eis o tempo de conversão ““…” É agora o momento inteiramente favorável” 2Cor6,2) – É oportunidade para realizar o caminho de Emaús, detendo-nos em cada uma de suas paradas. É um EXERCÍCIO ESPIRITUAL QUARESMAL – Exercício de conversão! Pessoal, comunitário e social. Exercício à Fraternidade e ao Diálogo.
A Quarta parada – a força da dimensão espiritual do ecumenismo… Fonte de tudo é a certeza de que Deus que é Pai – Daí se desconstrói verdadeiramente muros… A Fraternidade tem em Deus seu fundamento; essa é sua verdade transcendente; seu alicerce que não pode ser esquecido, descartado, ultrapassável. “Estamos convencidos de que só com esta consciência de filhos que não são órfãos, podemos viver em paz entre nós. Com efeito a razão por si só, é capaz de ver a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivência cívica entre eles, mas não consegue fundar a fraternidade” (272).
Nos sentirmos irmãos uns dos outros: essa é nossa alegria e mais profunda identidade! Em nome de Deus só podemos construir pontes, a paz e a fraternidade. Há violência religiosa, desaquecimento de vida comunitária e missionária, abandono dos pobres, vulneráveis e marginalizados, quando há deformação da concepção de religião e da imagem de Deus. As religiões estão a serviço da fraternidade no mundo. Os verdadeiros ensinamentos das religiões convidam a permanecer ancorados nos valores do diálogo e missão em conjunto a serviço da humanidade. Os ensinamentos do texto bíblico dos discípulos de Emaús convidam justamente a isso!

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