25/07 Missão de Jesus: revelar a ternura do Pai: Abba, Papai
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O que chama a atenção na leitura dos evangelhos é a bondade, a ternura e a simplicidade com que Jesus acolhe as pessoas, sobretudo as marginalizadas: pobres, mulheres, estrangeiros, samaritanos, leprosos, prostitutas, publicanos, crianças. Em tudo que Jesus vive e anuncia, transparecem os traços do rosto de Deus como Pai: Abba, Papai. No Antigo Testamento a palavra Pai para Deus ocorre apenas 15 vezes. No Novo Testamento, 245 vezes! A origem desta grande diferença é a novidade da experiência que Jesus irradiava de Deus como Pai. Eis alguns episódios desta ternura de Jesus.

  1. Olhando nas entrelinhas, a gente percebe a ternura com que Jesus acolhia as pessoas: o velho Zaqueu (Lc 19,1-10), as mães com crianças (Mt 19,13-14), o leproso que grita à beira da estrada (Mt 8,2; Mc 1,40-41), o paralítico de 38 anos (Jo 5,5-9), o cego de nascimento na praça do templo (Jo 9,1-13), a mulher curvada na sinagoga (Lc 13,10- 13), a viúva de Naim (Lc 7,11-17), as crianças em todo canto (Mt 21,15-16), e tantas e tantas outras
  2. Sim, a ternura de Jesus se manifesta sobretudo no seu jeito de relacionar-se com as crianças e os jovens. São muitas as crianças e jovens que ele acolhe: a filha do Jairo de 12 anos (Mc 5,41-42), a filha da Cananeia (Mc 7,29-30), o filho da viúva de Naim (Lc 7,14-15), o menino epilético (Mc 9,25-26), o filho do Centurião (Lc 7,9-10), o filho do funcionário público (Jo 4,50), o menino dos cinco pães e dois peixes (Jo 6,9). Jesus diz que adulto deve tornar-se como criança para poder entrar no Reino (Lc 9,46-48). Ele mesmo se identifica com os pequenos: quem recebe uma criança, é a Jesus que recebe (Mc 9,37; Mt 25,40). Defende o direito da criança de gritar (Mt 21,16). Reconhece que os pequenos entendem melhor o Reino que os doutores! (Mt 11,25-26). Ele acolhe as mães com as crianças, toca nelas e as abraça. Tocar nelas significava contrair impureza! Jesus não se incomoda (Mc 10,13-16; Mt 19,13-15). Ele anuncia castigo severo para quem escandaliza as crianças (Lc 17,1-2; Mt 18,5-7).
  3. Diferente dos mestres da Lei, Jesus chama não só homens, mas também chama mulheres para segui-lo. Lucas dá os nomes de algumas: “Os Doze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres, que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam” (Lc 8,1-8). Marcos diz que elas seguiam Jesus, serviam a ele com seus bens e subiam com ele até Jerusalém (Mc 15,40-41). Os três verbos que definem o discipulado: Seguir, Servir, Subir
  4. Vale a pena lembrar o relacionamento de Jesus com algumas mulheres: com a Cananéia (Mt 15,21-28); com a Samaritana (Jo 4,7-30); com a mulher adúltera (Jo 8,1- 11); com a moça do perfume (Lc 7,36-50); com a mulher que perdia sangue (Mc 5,25- 34); com a filha de Jairo (Mc 5,3543); com a mulher que ungiu Jesus em vista do seu enterro (Mc 14,6-9); com Maria Madalena (Jo 8,2; 20,16-18; Mc 15,40-41; Mc 16,9).
  5. Vale a pena lembrar também a presença da mãe Maria na vida de Jesus, desde o nascimento até a morte na cruz (Jo 19,25-27). Presença amiga e constante. Ela não entendia tudo que Jesus dizia (Lc 1,29; 2,50), mas ruminava os fatos e as palavras dele até descobrir o seu significado (Lc 2,19.51). Nas bodas de Caná, foi ela, Maria, que percebeu a falta de vinho e procurou ajudar o casal a resolver o problema (Jo 2,1-12). Na hora da morte de Jesus, ela estava ao pé da cruz. Não abandonou o filho e o acompanhou até o Esta mesma atenção aos problemas das pessoas, Jesus a herdou de sua mãe e a colocou em prática. Aprendeu com ela a servir e não a ser servido (Mc 10,45).

Todas estas atitudes de Jesus para com as mulheres, as crianças, os discípulos e discípulas, e todas as pessoas que entravam em contato com ele, são uma expressão da sua preocupação em irradiar para os outros algo da experiência de Deus que o animava por dentro, do Deus ternura, Deus Pai e Mãe, Deus bondade. Assim ia se quebrando na cabeça do povo a imagem patriarcal de um Deus severo e distante.
É sobretudo na parábola do “Filho Pródigo” (Lc 15,11-32) que Jesus revela a Boa Nova do Deus Ternura. É a parábola do Pai com seus dois filhos. O filho mais novo, filho devasso e grande pecador, volta arrependido para a casa do pai. Ele não recebe nenhum castigo, nem sequer um puxão de orelha, mas é acolhido com um carinho inacreditável e muita festa. O filho mais velho, filho que se dizia fiel e observante da lei, este sim recebe uma crítica do Pai. Mas o pai sai de casa para os dois. Ele quer que os dois sejam irmãos um do outro, revelando assim que Deus é nosso Pai, Abba, Papai.
O máximo de ternura Jesus revelou quando estava sendo pregado na cruz. Ele rezou pelo rapaz que lhe atravessava as mãos e os pés com os pregos (Lc 23,34). Olhando aquele soldado ignorante e bruto, Jesus teve dó e rezou por ele e por todos nós: “Pai perdoa!” E ainda arrumou uma desculpa: “Eles não sabem o que estão fazendo!” Jesus se fez solidário com aqueles que o torturavam e maltratavam. Era como o irmão que vem com seus irmãos assassinos diante do juiz e ele, vítima dos próprios irmãos, diz ao juiz: “São meus irmãos, sabe, são uns ignorantes. Perdoa. Eles vão melhorar!”

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