Na Pan-Amazônia, há aproximadamente 3 milhões de indígenas, organizados em mais de 390 povos, falando 240 línguas vivas, pertencentes a 49 famílias linguísticas. Destas, cerca de 137 povos vivem em isolamento voluntário ou em contato inicial. Essa diversidade cultural é uma riqueza.
As Nações Unidas também reconhecerem que as “comunidades indígenas são líderes na proteção do meio ambiente”, pois “lutam contra a mudança climática todos os dias”, visto que “suas florestas armazenam pelo menos um quarto de todo o carbono das florestas tropicais”.
O Papa Francisco, ao escrever a exortação apostólica “Querida Amazônia”, recordou que “a sabedoria dos povos nativos da Amazônia inspira o cuidado e o respeito pela criação, com clara consciência dos seus limites, proibindo o seu abuso. Abusar da natureza significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador, hipotecando o futuro” (QA, 42).
Assim, somos chamados a levantar nossas vozes, em todo o mundo (África, América, Ásia, Europa, Oceania), e denunciar os atropelos contra os direitos básicos dos povos indígenas, cometidos por interesses de alguns grupos econômicos e políticos que só pensam no lucro, sem pensar nos grandes danos causados à natureza, aos povos, especialmente aos mais pobres, e que tem consequências visíveis em todo o planeta. Muito visíveis neste tempo de pandemia do Covid-19, estas ameaças históricas contra os povos indígenas, que podem ser consideradas “outras pandemias”.
São muitos os fatores que causam esse risco, entre eles: “o extrativismo dos setores mineiros, agronegócios, energéticos e de megaprojetos; a das crises climáticas que agrava as inundações, secas, incêndios e doenças; a dos racismos e discriminação contra os povos indígenas” (O Grito da Selva, Vozes da Amazônia 2021), como estamos vendo nos países da Pan-Amazônia e em diversas partes do mundo.
Durante o Congresso Mundial de Conservação em 2021, a Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica – COICA – apresentou uma proposta concreta que pede a proteção de 80% da bacia amazônica até 2025. A campanha 80×25, “Amazônia pela vida: protejamos 80% até 2025”, procura impedir que a maior floresta tropical do planeta chegue ao seu ponto de não-retorno. As comunidades indígenas ao redor da bacia amazônica e seus aliados estão levantando sua voz para clamar pela proteção da Amazônia e pela salvaguarda do futuro da humanidade.
O gerente do Fundo para Florestas da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO), David Kaimowitz, recorda que “as evidências mostram que os povos indígenas e as comunidades tradicionais são os melhores protetores da floresta amazônica, mas seus territórios estão cada vez mais ameaçados por atividades legais e ilegais. Eles precisam do apoio da comunidade internacional e dos governos nacionais para que seus territórios sejam reconhecidos e seus direitos humanos respeitados. Devemos fortalecer seu manejo florestal tradicional, seu conhecimento tradicional e identidade cultural e sua capacidade de conservar recursos que são fundamentais para alcançar as metas climáticas e de biodiversidade”.
O papa Francisco, na encíclica Laudato Si’ (2015) e na exortação Querida Amazônia (2020) recordou que os povos originários são os que melhor cuidam de seus territórios.
“É indispensável prestar uma atenção especial às comunidades originárias com as suas tradições culturais. Não são apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais interlocutores, especialmente quando se avança com grandes projetos que afetam os seus espaços. Com efeito, para eles, a terra não é um bem económico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espaço sagrado com o qual precisam de interagir para manter a sua identidade e os seus valores. Eles, quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuida” (LS, 146).
Aprendamos dos povos indígenas o amor e o cuidado da Casa Comum! Defendamos os guardiões da Casa Comum, suas vidas e territórios, para que tenham “vida em abundância” (cf. Jo 10,10)!
Com informações Júlio Caldeira IMC – CNBB