03/04 SÁBADO DA SEMANA SANTA
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“… depois, rolou uma pedra na entrada do túmulo” (Mc 15,46)
+ Podemos começar este dia recordando uma experiência muito humana: imaginemos o regresso do enterro de uma pessoa querida, depois de uma longa temporada de lutas e temores, com um tratamento pesado, com momentos de otimismo, momentos de frustração, etc…, até o instante último em que dizemos em nosso interior: “descansou”.
Quem não regressou alguma vez do cemitério com esta sensação?
Partindo desta experiência, contemplemos um momento como descem do Gólgota, Maria, o discípulo amado e algumas mulheres que estavam junto à Cruz, com a horrível sensação de que tudo acabou.
+ Hoje é Dia de silêncio: recordar os grandes silêncios da vida (perdas, fracassos, crises…) onde não há razões, mas no silêncio profundo, algo novo começa a germinar…
– Normalmente o Sábado Santo não merece maior atenção de nossa parte; acabada a Sexta-feira Santa já pensamos no Domingo da Ressurreição. No entanto, o Sábado Santo reivindica uma reflexão e um lugar na nossa vida espiritual.
O Sábado Santo é um dia de penumbra: entre a sombra da Sexta-feira e a luz do Domingo. É o dia do luto e da possível boa notícia, da espera e da esperança. É o dia dedicado à solidão de Maria, o “dia não-litúrgico”. É o dia em que Jesus “desce” à morada dos mortos, na obscuridade mais absoluta. Ali não há visão de Deus; por isso, a Escritura a chama “inferno”.
É o dia do ocultamento de Deus, do silêncio de Deus Pai, da grande solidão de Jesus, do Filho perdido na obscuridade, na “terra de ninguém”. Jesus no túmulo simboliza o silêncio, a volta ao mais íntimo de si mesmo, abraçando a solidão sem se sentir solitário.
– Se não oramos a partir desse silêncio, é porque ainda não mergulhamos no mistério do Amor com passivo. Muitas vezes negamos a Deus o que de mais humano há em nós: o poder fazer comunidade compassiva e solidária, compartilhando a dor e o luto.
O Pai está de luto; a humanidade inteira está enlutada devido à pandemia; toda a natureza, em silêncio, acolhe a semente do Corpo do Verbo, na esperança de germinar Vida plena.
Contemplemos a espera angustiada do mundo, dos povos, das pessoas. Contemplemos o mundo e a humanidade em seu sábado santo, em seu dia de silêncio, em seu isolamento social.
Esse parece ser o estado da humanidade neste momento; um estado de paralização e de espera que parece não ter saída. Envolve-nos a obscuridade; estamos no túnel e não vemos a saída. O corpo da humanidade encontra-se ferido, desvitalizado. Não é a morte, mas tampouco é a vida.
– Nosso mundo carrega a cultura da morte, do ócio, da violência, da intolerância… Toda a criação geme em dores de parto, esperando vida plena.
Em meio a tantas trevas, só há uma pequena luz que permanece acesa da casa do discípulo amado, na casa daquele a quem Jesus confiou sua Mãe, no momento de sua morte. A Mãe é o símbolo da esperança no Sábado Santo. É o dia “mariano” por excelência. Nunca, como neste dia, ela se sentiu tão só, tão sem corpo. Mas, com certeza, o Abbá de Jesus tinha para ela um segredo, um advento inesperado: o momento de exclamar: “tu és o meu Filho, eu hoje te gerei” (Heb. 1,5).
As mães geram a vida; por isso, custa-lhes crer na morte. Maria continua crendo na vida; ela é mãe demais para esquecer. Seu filho é muito Filho para morrer.
– Sábado Santo é tempo não só de espera, mas de esperança, é deixar que o grão de trigo morto comece a dar fruto, é tempo de um inverno que tornará possível as flores da primavera, é tempo de imaginar, de criar, de abrir-se a algo novo e inesperado, de sonhar um mundo melhor e uma Igreja mais nazarena.
Este espaço de silêncio não é de morte senão de vida germinal, é noite que aponta à aurora, são as noites escuras da vida que desembocam na alegria da alvorada; é tempo de fé e de esperança, é momento de semear, mesmo que não vejamos os resultados, é tempo de crer que o Espírito do Senhor, criador e doador de vida, está fecundando a história e a terra para seu amadurecimento pascal e escatológico, para a terra nova e o céu novo.
– A Luz está para chegar. O Espírito ficou sem palavra, mas já sussurra. A voz do silêncio já geme; nele vislumbra-se a chegada da Vida. Algo grandioso se prepara.
Da escuridão da morte do Filho de Deus brota a Luz de uma esperança nova: a luz da Ressurreição reflete-se no rosto de Maria. Nossa amizade e devoção a Maria da esperança, a transparência feminina do Espírito, nos mantém no ritmo da espera.
Aproximam-se os rumores de ressurreição. É Páscoa.
Não basta re-nascer; é preciso assumir nossa condição de responsáveis de uma Nova Vida.
Texto bíblico: Mc 15,42-47
+ É preciso, com Jesus, descer ao túmulo de nossa interioridade, transitar por espaços e dimensão não integradas e nem pacificadas. Só quem mergulha nas profundezas de sua existência é capaz de morrer às exigências do “ego” e vislumbrar as potencialidades de vida que ainda não foram ativadas. “Se o grão detrigo que cai na terra, não morre, fica só” (Jo 12,24).
+ É preciso envolver este “sábado santo da vida” com os perfumes da compaixão, solidariedade, comunhão…

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