30/03 TERÇA-FEIRA DA SEMANA SANTA
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A despedida com rosto de ternura
+ Busque criar um ambiente propício para a oração deste dia: espaço externo, atitude
interna, silêncio… para viver mais intensamente os “momentos finais” da vida de Jesus.
+ Faça a oração preparatória (de entrega), a composição vendo o lugar (a última Ceia), e
peça a Deus a graça de participar dos sentimentos de Jesus, às vésperas de sua morte.
+ Leia as “indicações” abaixo como ajuda para “entrar em contemplação”:
– Estamos na terça-feira da Semana Santa, às vésperas da execução de Jesus. Como
ontem, somos convidados a participar de outra ceia de despedida. A ceia de Betânia foi
rica em símbolos de amor, de amizade, de festa…, um esbanjamento de humanidade. A
ceia de hoje (em Jerusalém) é marcada por uma comoção profunda, onde Jesus se vê
traído, vendido, enganado e abandonado por aqueles que juravam fidelidade e amizade
profunda. Esta noite, Jesus começou a sentir que estava sozinho. É o sentimento mais
duro e doído que alguém pode passar.
Jesus está celebrando a última ceia com os seus discípulos; tinha acabado de lavar os
pés deles e de ter falado do dever que temos de lavar os pés uns dos outros. Judas já
tomou a trágica decisão, e depois de tomar o último pedaço de pão das mãos de Jesus,
saiu para cumprir sua traição.
– Na contemplação da Última Ceia, um personagem vem sempre à nossa lembrança:
Judas Iscariotes. Reagimos negativamente frente sua traição a Jesus, mas no fundo ele
nos causa repulsa porque é projeção das nossas infidelidades e traições. Ele é o espelho
no qual nos vemos.
Mas… o que vem a ser a traição? Como ela se manifesta na nossa vida? Por que
traímos a confiança do outro?
O ato de trair implica romper uma aliança que uma pessoa fez com outra. Trair é uma
ação que implica consequências, e, quando se fala de relacionamento humano, envolve
sofrimento e sensação de abandono, gerando um estado de desconfiança generalizada
naquele que foi traído.
Traição dói na proporção inversa da distância. Quanto mais próxima se sente a pessoa
traidora, tanto maior a dor do traído. A traição se situa no mundo das amizades, das
vinculações afetivas intensas, das ligações íntimas, das proximidades de vida.
– Judas se tornou o símbolo da traição porque fazia parte do grupo íntimo dos apóstolos.
Foram anos de convivência nas mesmas caminhadas, nas noites ao relento, nas
pregações, nas refeições simples do dia-a-dia e nas festas. Jesus e Judas viviam elos de
amizade, de confiança, de esperança entre si.
De repente, rompe-se tal aliança e Judas entrega Jesus aos adversários.
Com a traição, Judas passou da amizade para a decepção, para a desilusão, para a perda
de vinculação até a entrega. Processo lento que foi minando o seu coração, até que ele
se corrompeu, a ponto de renegar a amizade e trair.
– Quando Jesus, na Última Ceia anuncia que um deles vai lhe entregar, todos ficam
“assustados”, “olham-se mutuamente”, mas não conseguem identificar o traidor.
Os traidores não têm um rosto especial; qualquer rosto vale para dissimular a traição do
coração; qualquer rosto vale para esconder um coração traidor.
Judas, em nada dava sinais de ser diferente do restante dos discípulos. Por isso ninguém
se atreveu a acusá-lo de traidor. Parecia tão normal como qualquer outro do grupo.
É que as traições são alimentadas e escondidas no coração; as traições não têm rosto,
não são visíveis. Por isso mesmo, os traidores, são tão difíceis de serem reconhecidos.
Caminham como todos. Comem como todos. Sorriem como todos. Têm cara de amigo
mas, por dentro, carregam um coração vendedor de vidas, de dignidades.
– Poucas experiências destroem tanto alguém por dentro como a traição.
Quem traiu e quem foi traído assume reações semelhantes, como esvaziamento da
afetividade, sensação de inutilidade vital, desorientação, perda do sentido da própria
existência, angústia, pânico, fobias e medos generalizados diante das pessoas e do
mundo. A traição desmonta a esperança no outro ser humano e leva à descrença na
existência do amor. A traição tira do ser humano sua capacidade de dar respostas à vida,
de envolver-se num projeto e num ideal maior, que ultrapasse o valor de sua própria
vida.
– Pensemos em tantos “Judas institucionalizados” que exploram as pessoas, alimentando
uma “cultura
de morte”; pensemos nos “pequenos judas” que carregamos dentro de nós, na hora de
eleger entre
lealdade e interesse, entre gratuidade e dureza de coração. “Cada um de nós tem a
capacidade de trair, de vender, de só optar em favor do próprio interesse. Cada um de
nós tem a possibilidade de deixar-se seduzir pelo amor ao dinheiro, pela busca de
poder. Judas, onde estás? É a pergunta que faço a cada um de nós” (Papa Francisco).
+ Leia atentamente o Evangelho da liturgia de hoje. Jo 13,21-33.36-38
+ Comece a contemplação ativando todos os seus sentidos, para poder participar
intensamente da cena.
+ Faça-se e sinta-se presente na sala da Última Ceia, como um “humilde servidor”:
observe o ambiente preparado, a disposição da mesa, o jarro e a bacia para o lava-pés,
os pães ázimos, ervas amargas, vinho…
+ Centre sua atenção na chegada de Jesus e seus discípulos; observe as feições de cada
um deles, tomando lugar à mesa… Procure escutar o que estão dizendo…
+ À meia-distância, observe a seriedade do momento, escute as palavras de Jesus ao
tomar o pão e o vinho… Sinta-se desconcertado quando Jesus anuncia que um do grupo
vai ser o traidor. Veja as reações dos discípulos, a tristeza de Jesus…
+ Diante de “Jesus traído”, recorde experiências pessoais de traição: quando foi traído?
Quando traiu? Como se sentiu?
+ Passe um bom tempo nesta sala, onde está acontecendo um evento histórico e
essencial para os seguidores de Jesus: a instituição da Eucaristia. Participe também você
da refeição.
+ No final da oração dê graças por poder participar deste momento.
– Faça exame da sua oração e registre no “caderno de vida” os movimentos (moções) do
coração

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